terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Pássaro no dedo

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar.”
Rubem Alves

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Batata Gratinada

Que tarde linda, meu Deus. Tarde perfeita sem a sua voz interrompendo a minha risada e sem a sua inconstância abalando o meu fluxo de pensamentos. Fui tão feliz com a minha anestesia geral hoje que você nem chegou a me incomodar. Eu vesti aquela calça que nunca te mostrei, com a blusa do trabalho que ralei para conseguir e enrolei os cabelos num nó que você adora, mas não pensei em você por horas. Fiz batata gratinada, coloquei meus temperos e repeti o que você dizia, repeti as coisas que eu te falava e nem sequer me lembrei de você. Foi uma tarde linda com a melhor amiga. Uma tarde vazia de fantasmas, vazia do seu egoísmo e divertida como as nossas conversas deixaram de ser há muito tempo. Uma tarde em que eu pude ser eu mesma sem me preocupar em te agradar, em não fazer nada errado, em não cruzar a linha. Cruzei todas as linhas, mas não citei o seu nome. Ri das nossas piadas antigas, comentei da pouca inteligência de outra amiga, queimei o dedo, conversei com o meu pai e escrevi em meu blog. Tudo se encaixando perfeitamente, exatamente como antes de você entrar na minha vida e machucar todos os pontos de mim que eu entreguei em suas mãos. E nem senti falta das suas piadas irônicas, não liguei para o fato de você não ter me ligado, de eu ter esperado, de estar sem entender. Não tenho mesmo entendido as coisas ultimamente, não é? Que seja tudo diferente agora. Que eu possa ser eu outra vez e se quiser me acompanhar, um brinde a nós dois. Eu e você. Nós dois temos nomes e o meu nome eu me esqueci de esquecer quando não lembrei mais quem era você.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Relacionamentos em Polaroid


Um dia desses eu estava reparando nos casais de namorados que conheço. Muito sérios, muito imaturos ou muito chatos. Às vezes conseguem ser as três coisas juntas, não raro. Fiquei pensando que relacionamentos são como uma fotografia. O momento que você vive, as coisas que você pensa e o sorriso que você dá na hora em que o flash te cega são coisas que só você vai saber. Você e as outras pessoas que também foram fotografadas. Quem olhar de fora, quem observar depois, nunca vai entender exatamente o que se passou e a razão da mancha no vestido, do sorriso meio torto, das mãos suadas e entrelaçadas. Todos os detalhes são uma mera questão de estar do lado de lá. Ou, quem sabe, do lado de cá da foto. Assim são os namoros, noivados, casamentos e todas as outras instituições (falidas ou não) que a sociedade construiu ao longo do tempo. Quem vier espiar de fora, sinto muito, entenderá muito pouco e palpitará do jeito errado. A não ser que tenha muita sorte ou que já tenha entrelaçado as mãos suadas daquele mesmo jeito em uma fotografia anterior. Os momentos passam, mas as fotos sempre vão ficar guardadas em algum lugar até serem reencontradas. Elas podem não fazer sentido para  mais ninguém, mas sempre vão fazer sentido para quem sorria nelas.

Il mio amato, voglio che tu così, ti auguro vicino a me. Mi mancano i tuoi baci, la mancanza di noi insieme. Ti amo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mais uma dela


Procurando frases que estão perdidas aqui.
O tempo, meu maior companheiro e inimigo: Sinto falta de mim.
Consegui juntar algo que me parece uma verdade coerente.
Parece ate fácil agora fazer tais afirmações.
A questão é que elas não são a confusão de alegria que explicava de maneira superficial, porém real, o que era eu.
Tudo bem que seja assim.
Pelo menos ainda sinto o vento alisando meu rosto no lugar onde roçava sua mão e molhava seus lábios.
Estou sempre um segundo à sua frente e dói te ver ficando para trás.
Porque sei que jamais estaremos no mesmo tempo.
Sinto falta de tudo que minha mente inventou para você.
(Eu costumava pensar que a sua inventava coisas para mim também.)
Para mim, o nosso ritmo era o mesmo, mas não, estou um segundo à sua frente e não posso te esperar, porque, se tentar, perco a capacidade de contar o tempo e me perco.
Você não me acompanha no meu ritmo descompassado.
Continua sempre um segundo antes de mim.

Texto de Lena Reimão adaptado por mim.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Moída


Há tanto tempo não venho aqui. Faz semanas que não sinto o meu espírito leve o suficiente para compartilhar alguma coisa. E ainda estou assim. Meio suspensa entre tudo o que eu quero viver, acumular, entender. Estou meio tristeza, meio alegria e um completo de ânsia. Ansiosidade, nojo, medo, asco. Quero tanta coisa agora. Que ele pare de falar comigo como se eu fosse obrigada a fazer parte desse jogo idiota, que tudo volte ao normal, que a carne moída se refaça em carne inteira. Também estou moída, sabe? Por que tenho a culpa, o peso, a angústia e tudo o mais me sufocando. Tenho ele me sufocando. Com as lembranças, com sua falta de perdão, com essa mágoa estranha que escorre da sua língua e me fere por dentro, por fora. Me machuca. Já estou cansada demais para jogos bizarros, não posso manter as minhas pernas firmes, os meus passos lentos e a cabeça erguida. Cada palavra é outra batata escorregando garganta a dentro. E ele sabe. Me fere, me odeia e me ama. Que amor estranho, eu sei. É por isso que faz tanto tempo que não venho aqui. Cansei de ser só dor em um livro aberto. Assim que fizer sol eu volto. Prometo.

"...dessa vez era um amor mais realista e não romântico: era um amor de quem já sofreu por amor." - Clarice Lispector

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Recusa

Torcendo a língua, os dedos e os desencantos de um momento inteiro em minha garganta arranhada de tristeza pura. É a falta, a saudade e uma interrogação imensa gritando em meus ouvidos a pergunta mais intensa: "Ele volta?" Há de ter se escondido em algum lugar inalcansável, mas não sou incansável, estou me esvaindo em mim. Estou desgastando braços e pernas nesse esforço quase inútil de remar sozinha, nadar contra a maré sem impulso, a pulso, perdendo aos poucos a pulsação de vida que era o sorriso e a intensidade misturadas em porções pequenas. É impossível não lembrar e aceitar, me acomodar, me calar e evitar a mendicância desse amor que me pertenceu em algum passado que quase já não lembro. Então ele volta e vai embora, brincando com meus nervos em frangalhos, brincando com a minha fé já tão pouca. Ele volta e vai embora, me esmolando sentires, me cuspindo a cara com os fragmentos, poucos, da importância que me dá. A maneira como é tudo comum me tira as armaduras, joga as minhas armas ao chão. Devo ser paciente, mas a paz mais consciente que eu tenho não é a que hoje me acompanha. Sem angústia, sem desespero, sem nada que realmente represente vida. É só a sombra de tudo, é só reflexo do que já foi. É a garganta arranhada de tristeza pura.

"...e tudo que eu andava eu nao queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu nao quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era." - Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Buracos na cerca

Ele era do tipo que adorava um adjetivo. Bem pronome relativo e, apesar de sujeito simples, pouco previsível. Nada que fosse como os outros se encaixava em sua oposição. Conjunto de dissemelhanças. Conjunção adversativa. Ele me sorria em momentos de pouco sol e o brilho dos seus olhos me fazia querer rir. Era qualquer coisa de desconhecido e eu me apaixonando pelo mistério por trás do homem. Nenhuma indicação funcionava, nenhuma preposição se encaixava. Ele era um ponto de interrogação com ênfase. Ele era dois pontos de exclamação. Fui me enredando nas reticências e procurando o fundo do poço escuro. Tive medo, tive mãos para me apoiar na descida, tive curiosidade. Mas quanto maior a busca, maior o índice de indeterminação do sujeito.

Até um dia.

Em que desisti de descer e ele fechou para mim os seus lugares escuros. Acendeu a luz no raso e eu pude enxergar. Não há mais mistério que galgar, não há coisa alguma para desvendar. Estou de pés molhados e disposta a descer outra vez, mas fechou-se o fundo do poço. As mãos continuam estendidas, agora frias, agora vazias. E, apesar delas, me sinto sozinha. Agora intransitiva, sem complemento.



"Perder o vazio é empobrecer." - Ana Carolina

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

É tempo de respirar

Como é lindo o amanhecer; ao menos para mim. O sopro do vento em completa sincronia com o respirar permitem que eu afirme neste momento que tudo posso esquecer, tudo esqueço, quando se anuncia o primeiro raiar. Deste meu sonífero e particular mundo andei reparando na constante asfixia social e não me excluo dela, ou pelo menos não totalmente. Seres apáticos não percebem a própria apatia julgando apatias alheias em tons opostos. Que tolo devaneio! Uma pitada de ignorância numa sopa de evoluções deturpadas formam a receita exata para a construção de condomínios de luxo lacrados, morros sangrentos e amnésia do respeito ao ser humano. O continente mais quente... aquele que em um momento qualquer fez nascer o homem – o rastro dele. Pobres terras possuem lugar. Talvez a falta de um bom adubo não permitiu que os frutos que migraram dali fossem prósperos, solo infértil, quase um deserto... sem chances de oásis. Ó magnificência que é regada com o descaso! Não se sabe ao certo por que tanta magnitude, acredito que seja magma... lavas que destroem por completo: preconceito. As teorias biológicas (e por que não, o óbvio) afirmam indiscutivelmente que dentro do corpo humano o sangue é vermelho. Então por que ao invés de, na identidade étnica, afirmarmos que somos negros, pardos ou causasianos (dentre outras etnias), não colocamos sangue vermelho? Uma dose de miscigenação por favor! E para acompanhar: torradas de percepção e geleia de autenticidade!
Chega de sucumbir minha vontade! Erga-se por instantes... não há controle dessa tal “maluquice” misturada com “lucidez”... mas eu não vou ficar com certeza “maluca beleza”, quero insistir um pouco mais. E, por favor, quando eu abrir os braços, ao meu ver, não dê à toa um sorriso. Não sou só um negro lindo: sou luta, insistência, paciência, orgulho; sou constantes e inacabadas vitórias. Não ame a minha raça, não ame a minha cor; respeite o ser humano que sou, respeite a humanidade que somos. Reconheça sim, ao me ver passar, a paciência e a força que me animou e não me dizimou, que me trouxe aqui, eu estou aqui! Eu concluiria essas palavras se pudesse concluir uma razão exata para o desrespeito. E como não posso, permaneço vivendo dias imaculados aguardando o “neoamanhecer”. Meu balão de oxigênio está quase vazio, mas eu não desisti de expirar. Vamos revisionar nossas apatias; podemos sacudir o viver, podemos existir...
É tempo de respirar!



texto de Rebecka Monteiro Barros.

domingo, 29 de agosto de 2010

Prateleiras

Felicidade demais me dá medo. Parece que sempre que alguém está feliz a ponto de explodir... Explode. Cacos de alegria caindo na cabeça de todos e nada de sorrisos sobrando. Toda a vida que se esconde por trás de olhos apertados é aprisionada além da compreensão dos fatos. Mudanças me assustam. Mesmo que sejam necessárias, mesmo que sejam pensadas e analisadas com frieza. Mudanças me enervam. Dá vontade de colocar tudo em seu lugar outra vez e organizar certezas em minhas prateleiras internas. Arrumar meus livros de vivências em ordem alfabética. É que sou inconstante mesmo. Quero sair pulando na rua, quero ficar sozinha, quero alguém me escutando e desejo que me deixem em paz. Hoje acordei indiferente. Desejando que todo o seu orgulho e frieza engasguem-se em sua garganta apertada. Que sufoque dentro da sua própria altivez. Gosto do morno e sou sempre quente demais para mim. Cansei do seu gelo por hoje. Cansei de você por hoje. Mas isso passa, não passa?



"Não vou dizer que tudo é banalidade
Ainda há surpresas, mas eu sempre quero mais
É mesmo exagero ou vaidade
Eu não te dou sossego, eu não me deixo em paz"

sábado, 28 de agosto de 2010

Be a child



"Sei que todos algum dia acordamos com a senhora desilusão sentada na beira da cama. Mas a gente vai à luta e inventa um novo sonho, uma esperança, mesmo recauchutada: vale tudo menos chorar tempo demais. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas se realizam. Criança sabe disso." - Lya Luft

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tudo bem

Não está tudo bem. E parem de perguntar se está. Parem de olhar para mim com esses olhares de pena. Me deixem em paz! Não preciso de ninguém me esperando o que fazer ou espreitando o meu sentir como se tudo dependesse de um sorriso meu. Falso sorriso meu. Não, não está tudo bem. E dane-se o que você mastiga quando quer cuspir doce. Eu estou cuspindo tudo o que há por dentro e é amargo o suficiente para não estar nada bem. Voltem às suas vidas, voltem às suas flores, seus livros, seus não-amores e me deixem sofrer. Sinceramente? Me deixem sofrer!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Envelopes.

"Ele está indo embora, menina. O seu melhor amigo vai descendo a rua e você parada na porta de casa!", meu cérebro gritava. Não adianta, repeti. Falei mil vezes que eu estava enganada, que dava para contornar, que dava para entender, que não somos tão diferentes assim, (caramba!). Mas repetir uma coisa como um mantra, não faz disso uma verdade. Ele vai a passos lentos. Esperando que eu chame de volta. Ou não. No fundo ele sabe que é exatamente assim que vai ser. E dói. Em nós dois. Do jeito mais clichê. O café que nós tomamos ainda está sobre a mesa, o sofá ainda parece desarrumado no formato exato do seu corpo e o cachorro com seu cheiro tem saudade gritando por todo o pêlo. Ele foi embora, menina. O seu melhor amigo foi embora.



"A escolha certa nem sempre vem no mesmo envelope dos bons sentimentos." - Série Cris, O amor pode esperar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Em tempos de eleição

Que me feche a garganta o grito surdo dos que têm muita alma e pouca voz. E que eu fale por eles, que grite sua vez enquanto, nos becos imundos, são retratos do meu descaso. Por que não me retiro do circo já criado em que há palhaços peraltas e leões a ser domados. Não me privo do não-orgulho e da culpa de ter o dedo apontado para o rosto da indiferença. Se há algo que toque os tambores, se há som que rufe a consciência, que badalem os sinos mais altos para que desperte do coma da dormência todo o ser que, de braços cruzados, tem pretenção de fazer a diferença. Que lutemos até o fim, que nos crucifiquemos em nome do que cremos e que nossas cabeças sejam levantas para que, antes de esmagadas, façam valer a pena a nossa causa. Por que se há cruzes em que morrer, é certo que não terminaremos nossa luta de braços cruzados.



"Eu que jamais me habituarei a mim, gostaria que o mundo não me escandalizasse" - Clarice Lispector

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Até o fim

Olha que os ventos lá fora agora estão calmos e pouco me arrastam dentro dos seus redemoinhos. Olha que a paz que me eleva é toda feita do seu sorriso e da sua segurança que tão pouco balança. Percebe então o meu medo, a minha desesperança e tudo o mais que se mistura lentamente a todas as faltas de certeza que me cospem a cara e me apertam o peito, mas me prende bem perto. Mantém o seu braço ao redor do meu ombro e me segura nos caminhos em que me falham as pernas, as palavras, os sentires. Estou vulnerável e ainda ocilo, mas decisões são decisões que, por mais balançantes que estejam, apontam uma direção. Vou por esse lado por que é o lado em que você está. Era tudo verdade quando eu disse que deito nessas horas que não passam esperando que o sono me distraia da falta que você faz. Quantos sonos me distrairiam da vida se não houvesse mais as suas cores gritando na minha sala? Deita aqui a sua cabeça no meu colo e que as calçadas da rua não te encontrem mais para além da minha porta. A minha casa te precisa. Fique e sirva-se. Welcome back.



"Mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim" - Caio Fernando Abreu

sábado, 31 de julho de 2010

Num sábado

Antes de ontem eu estava reparando em mim mesma. Acho que sou meio maluca agora. Aquele tipo de maluquice de gente que coloca os fones de ouvido e esquece de ligar a música, sabe? Eu prefiro passar na frente dos carros do que subir a passarela, mas se está chovendo e eu estou com pressa, aí a passarela parece ser indispensável e eu acho que vou morrer se cortar caminho na frente de um caminhão. Me desespero se tento falar com meu pai e ele não atende, mas se me dizem que foi um acidente, ele enfiou o carro debaixo de uma carreta e deu perda total, então eu relaxo. Se ninguém disse que morreu, é por que vai ficar tudo bem. E fica. Eu reclamo por que meu namorado fala comigo com voz de sono, reclamo por que ele não me retorna na hora do almoço, reclamo por que não me mandou mensagem, reclamo por que ele dá risada das próprias piadas particulares que inventa com o meu nome e depois quero que ele esqueça tudo o que reclamei e pare de se desculpar. Por que ele fica se desculpando? Eu é que deveria agradecer todos os dias a paciência que esse homem tem de chegar cansado e ainda ouvir todas as besteiras do meu dia comentadas. Por que contar besteiras já é o que faço sempre, mas comentá-las é privilégio dele. Aí eu chamo a minha amiga para dormir aqui e, se ela não vem, fico pensando que resolveu me abandonar de vez, mas quando vem eu a deixo no computador e vou ligar para ele. E conto que passo na frente dos carros ao invés de ir pela passarela. Ele fica bravo e preocupado e eu sorrindo por dentro. É por que ele se importa, não é? Daí fico feliz e vou ouvir qualquer coisa. Coloco os fones de ouvido e começo a escrever no blog. Esqueço o que pretendia escutar e fico com os fones de ouvido mudos na orelha. É, acho que eu sou meio maluca mesmo. E hoje ainda faltei aula de biologia. Que Deus me proteja!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Como eu quero

Estou preguiçosa hoje. Até de continuar a minha mudança tão profunda eu estou dando um tempo. Quero só alguns minutos parados no relógio para me jogar no sofá e descansar de mim. Não há nada agora que me conquiste além do não-fazer. Nada além do não-dizer. Indecifrável que sou, acordei achando que tudo pode esperar. Você que me abandone por que cansei também do seu sorriso. Mas isso só por dez segundos. Pronto, passou. Já quero você outra vez. É que ainda não mudei tudo o que tinha que crescer, então meu egoísmo é te privar do lado mais inconsequente e, talvez, mais divertido de mim. Tire sua bermuda, fique sério e do meu jeito. Tenho aprendido a ser bem melhor, mas ainda fico muda e sem tanta cara de mistério. Minha fala presa e meus rabiscos tão poucos são só embaraço perto da sua disposição em falar coisas que não sei dizer além do que escrevo. Hoje acordei com preguiça, mas hoje está acabando. É como dizem: Tudo na vida passa. Até uva passa.



"E não obedeceria porque gato não obedece. Às vezes, quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem a instintiva humildade do cachorro, o gato não é humilde, traz viva a memória da sua liberdade sem coleira." - Lygia Fagunde Telles



A Investigadora



Para quem queria o link sem ter que adicionar a comunidade. Beijos.

sábado, 24 de julho de 2010

Na menor medida

Hoje, deitada na cama depois do sono da tarde - que usei para recuperar o que se perdeu durante a noite. - pensei em você e me deu uma saudade. Senti tanta falta da época em que conversávamos sobre qualquer coisa e riamos à toa como se a vida dependesse apenas daquele segundo. Ainda lembro do seu sorriso antes disso tudo começar. Você tinha uma vida impressionante rasgando as veias e eu confesso que não soube conviver muito com essa garota com cara de medo que você se tornou. Seus olhos não soltam faíscas mais, sua risada não vira gargalhada presa na garganta e tudo seu é numa medida muito menor agora. Fico aqui me perguntando quem foi que mudou primeiro. Se fui eu que deixei de entender as nossas diferenças ou se foi você que ficou diferente demais. Hoje me imaginei indo embora sem sentir saudade de quem você é, mas meu peito apertou com o buraco que a pessoa que você foi deixou. A gente era a única pessoa para quem a outra podia correr, não era? Agora corremos para lados opostos como se a felicidade de uma repelisse a da outra. Não conseguimos mais dizer nada que não ofenda, que não magoe ou que não tenha tom de ofensa e mágoa por trás de um pedido simples. Não importa o quanto eu chore a nossa distância, já não acredito mais que você volta. Eu mesma me recuso a voltar para quem eu era naquele tempo, então achei que seria demais exigir isso de você. Só estou escrevendo isso por que, como eu disse, ainda me lembro do seu sorriso antes disso tudo começar. E sinto sua falta, minha irmã.



Em memória da minha irmã mais velha.

Prefácio - A Investigadora

As marcas deixadas pelo abandono de sua mãe quando pequena fizeram de Kate uma mulher bastante diferente do que se vê por aí. Ela é auto-suficiente. Não acredita em amor, não lê romances ou assiste filmes, mas descobriu sua paixão mais avassaladora quando entrou para a academia de polícia de Los Angeles. Sua ascenção até o FBI não foi tão penosa quanto fora para todos aqueles homens barbudos de ar cansado. Ela não tem um lar pra onde voltar e, por isso, Katherine Caldwell nunca se cansa. Eleita recentemente como a melhor investigadora do estado, Kate é mandada para coordenar o distrito de Houston, no Texas e arruma suas malas rumo a um novo passo da sua promissora carreira, mas...



A Investigadora



Link aí em cima para quem tiver curiosidade. Depois posto alguma coisa de blog mesmo. Minha criatividade para textos está tendendo a zero. Beijos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Breathe

E tudo o que eu fiz? Tentei mostrar de todas as maneiras que você foi o único com quem me importei até hoje. Debati-me dentro do meu próprio silêncio para que você pudesse escutar as minhas palavras engasgadas e presas à garganta e hoje me diz que não enxerga nada disso? Onde esteve todo esse tempo em que me virei do avesso para mudar por você, para não ter medo, para me jogar e sentir o calor do seu abraço em potência máxima de conforto. Não acredito ainda que seja tão impossível ouvir as batidas do meu coração desesperado quando a sua voz me deixa tonta de tanto sentir. É transbordante e me aquece a ponto de corar o meu rosto e escorregar corpo abaixo. Você é o fogo de mil infernos que se apoderou de mim e ainda assim não percebe que a minha temperatura se ajusta à sua? Palavras são tão pouco quando tudo em mim grita o que não sei dizer. Falo demais e não te digo nada espontâneo. Ignore as minhas palavras. Ensaiadas ou não elas não são nada. Permita-me respirar só mais uma vez o seu ar e explicar que as risadas, lágrimas e os abraços de partida e chegada são mais do que qualquer coisa. Estou ainda aqui, escrevendo para você às duas da madrugada, por que preciso desesperadamente que me entenda e nunca precisei de ninguém antes. Não vê? Não vê que passei a esperar a sua aprovação, o seu sorriso e a me encaixar no seu mundo pequeno demais pra caber todos os meus sonhos? Encolhi meus sonhos ao tamanho dos seus e estou aqui, escrevendo enquanto carros passam pela avenida e depois é só silêncio. É isso o que fomos? Carros na avenida às duas da madrugada? Agora então é hora do silêncio? Desculpa se não consigo fechar a boca, parar os dedos, deixar as cartas de fora da sua indiferença. Prometi nunca implorar nada, mas pedir que me escute é um direito! Leia meu diário, viole a minha alma e vai entender que todo o meu futuro se traduz no seu nome. Converse comigo só mais uma vez. Converse comigo enquanto os carros passam na rua lá fora e as luzes da cidade se apagam. As minhas luzes estão piscando insanamente e eu tentando me manter sóbria e acordada sem nada além das minhas pernas que sustentem a queda. Alto demais. Fale alguma coisa, me escute, me entenda, perceba, converse comigo. Não havia dito antes, mas eu te amo. Mesmo que não escute nada agora que o seu rosto olha para qualquer lado que não seja o meu. Eu amo você.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Pote cheio

Hoje acordei tendo certeza. Aquela confirmação interna de que você está do outro lado me querendo o mesmo tanto - mesmo que em sonho. Aquele som do meu rádio tocando a nossa música na sua sintonia e o mundo girando a favor do meu sorriso. Não há explicação para essa vontade de gritar mundo afora o que você representa e pintar em todas as paredes as cores do nosso amor. É tão brega falar de amor, não é? Mas já que resolvi crescer e comentar sobre os meus sentimentos escancaradamente - isso sem as meias voltas que costumo dar. -, por que não citar a força que nos impulsiona mais? É tudo misturado. É amor, é amizade, é um pote cheio de saudade e uns docinhos de vontade para não matar ninguém pelo tanto que arde. Os docinhos são picantes, você sabe. Então estou certa essa manhã de que tudo o que eu disser corresponde ao seu nome por que a minha mente se esqueceu de como é enxergar as coisas sem seu rosto como plano de fundo, sem sua voz como música tema. Ah, você, a razão de todo esse sorriso, a confusão dos meus olhos apertados e aquela eterna interrogação independente de quanta certeza me afogue.

Depois da escola

Bagaço, cansaço, só um pedaço.
Dormir, assim, a cama inteira só pra mim.
Estudar, memorizar, deixa pra lá.
Melhor, forró, tenha dó.
Dormir, assim, a cama inteira só pra mim.
Rimei, gostei, mas já parei.

(tchau)

domingo, 11 de julho de 2010

Cores, fios e gotas

Os sonhos dela estão na cartola. Tirados como mágica e apresentados um a um para toda a platéia, eles fazem sorrir e impulsionam as lágrimas. Quem é essa menina que sonha coisas tão pequenas e impossíveis ao mesmo tempo? Quem é essa mulher que troca o salto pelo All Star e a bolsa pela mochila para a estrada levar seus pés aonde quer que queira? Seus sonhos misturam-se com cores no céu, são fios de desejos que entrelaçam-se em seus cabelos e gotas de suor que escorrem por sua testa. Há aqui uma menina cansada. Há aqui uma menina movida pela vida a correr atrás. Mesmo que nunca chegue lá, mesmo que nunca alcance o lugar onde quer chegar a menina deste texto não deixará de sonhar. Seus sonhos estão todos dentro da cartola.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Serpentinas

- Eu vou. - Soltou meu braço direito e pousou a mão no meu rosto. - E, sinceramente, não desejo que você ame. Esse sentimento é muito grande pra você. Suas mãos são pequenas, você fica confusa demais. Fica bem. Adeus. - Me largou.
Soltou meu braço. Soltou meu rosto. Soltou minha vida. Jogou-a para o alto como se fossem serpentinas. E eu fiquei olhando enquanto ele se distanciava. Não olhou para trás e eu agradeci a Deus por isso. Não manteria a minha palavra se olhasse em seus olhos novamente. Não vou chorar. - ordenei - Não vou. Fiz o que era necessario, e se o tempo voltasse, faria novamente.
Fechei os olhos. Respirei fundo. O que eu tanto quis, aconteceu. Ele foi. Eu fiquei. Foi, porque eu quis assim. E agora tenho que arcar com as consequências. Tenho que me sentar e pensar no que fazer com o que sobrou. Tirá-lo de todos os detalhes. Limpar a minha retina e me acostumar a não tê-lo mais ao alcance dos olhos. Por que ele não está.
Minha promessa foi cumprida.
Mas, internamente, ficarei sonhando com o final feliz que não aconteceu.



Tamii Rosenvelt
Texto da minha irmã, só para não perder.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ciclo vicioso

Não estou me sentindo sozinha dessa vez. Hoje o dia ainda está azul mesmo que ele tenha ido embora. Nada é para sempre e ele diz adeus com o mesmo sorriso torto das boas-vindas. A saudade é interminável, mas a volta é rotina. E mais uma vez, contando até dez, vinte, trinta, dois meses e lá se vai aquela força que acumulei em todos esses dias de proximidade. Guardando em bancos, saldos, crédito de necessidades e tudo o mais que dá para deixar aqui quando se vem de viagem. Sempre o repetido instinto de vê-lo, abraçá-lo, beijar e deixá-lo ir outra vez. Sem mais. Nem menos tristeza ou alegria, um pingo de loucura e músicas altas beirando a inconsciência. Com o gosto na boca e o cheiro na roupa, com o sussurro ainda em replay nos ouvidos e as histórias para escrever em algum lugar escondido. Realmente faz pouco sentido, mas tenho sentido tudo isso com as mentiras de uma reserva para os tempos de frio. Só a falta que me faz indo outra vez para casa e agora nada me bastará. Pelo menos por um tempo, até que tudo comece outra vez.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Concreto do abstrato

Isso não significa nada. O seu sorriso triste não quer dizer que eu sou a pessoa que te faz chorar e a sua falta de amor não espelha uma frieza minha. Espero que chegue o dia em que você finalmente me enxergará como estou para além do que espera de mim. Parado diante de você e mal consegue me ver. Estamos prostrados diante desse amor que consome cada pedaço da nossa alma e pensamos ser algo positivo, mas estou lentamente ficando seco. Estou me perdendo sem lugares onde me esconder, estou enlouquecendo de bem querer sufocante e tocando paredes de concreto puro num sentimento abstrato. Esqueça e me conheça antes que o modo como julga o que faço seja o ponto final do que é. Eu ainda amo você, mas, apesar de tudo, isso não significa nada.

domingo, 20 de junho de 2010

Tudo novo de novo

Passei a manhã toda arrumando esse template. Baseei as coisinhas num lay que vi lá no Evelyns-place e aí está. Tudo voltando ao preto, não é? Só não gostei muito dessa imagem do título, mas a paciência já estava na reserva quando comecei a criá-la. Amanhã, quem sabe? Até achei bonito quando vi assim... Estou orgulhosa do meu Incomin! (hahahah) Segunda-feira voltaremos às nossas confissões e desabafos, tá? Beijos meus.

PS: Acabo de descobrir que não dá para acessar as postagens mais antigas e que meus títulos não aparecem. Droga, vou ter que fazer outro lay. (snif)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vazio infinito

Tudo no mundo é a escuridão da noite de hoje. Corações encontrando-se na mistura de pêlos de gatos nos telhados e mães que contam histórias pouco verdadeiras para suas crianças ao pé da cama. Eu aqui, sozinha em alma, pensando em quantos planos joguei pela janela quando me atirei de cabeça naquele sentimento imune a tudo. Não havia maneira de acabar, eu diria. A verdade mais cruel é que sempre acaba, não é? A menos que se ache pessoas dispostas a recomeçar. Não foi o nosso caso. E a noite escura me engole e me abraça ninando essa falta de tudo que me esburaca. O vazio é infinito, meu amigo. Muito maior do que qualquer amor que você pudesse sentir por mim, o vazio é gigante e não acaba nunca. Agora tenho dois buracos no peito. Um furo da sua não presença e um rombo da minha própria inocência que rolou ladeira abaixo agarrada aos meus sonhos. Todos aqueles que você embrulhou em mentiras e má vontade, se lembra? Eu aqui, sozinha em espírito, esperando a hora em que o sol nascerá outra vez. Brindando a todas as memórias. Que seja bom o nosso desafeto. E que se tapem os buracos deixados para trás.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Hot'n Cold

Ah que hoje eu me acordei quente. Não sou muito de sentir os lábios queimando ou, nas pontas dos dedos, perceber fogo de brasa alta, mas hoje estou ardendo em chamas. Foi o suspense da sua temperatura que me degelou. Não dá para ser fria quando há alguém chamuscando graus celsius bem ali ao lado. Não dá para ser previsível quando o impossível se confunde com o improvável bem debaixo dos seus cabelos. Naquele lugar exato em que a mão dele encontra a sua nuca e fica. Maldita-bendita mão que permanece. Te esquentando a alma, te enfurecendo o corpo, te afogando o espírito em labaredas. Estava mesmo lembrando da pele dele na minha e o seu corpo em contato com o meu alegando febre coletiva nos ossos. Quente que ele é, fervendo que estou. Só saudade e vontade de alguém que me aqueça o frio. Meu gelo não precisa mais, já se derrete sozinho.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Entrelinhas

Eu preciso que me escutem hoje. Preciso que falem comigo sobre os problemas de ontem, que debatam as coisas mais idiotas, preciso que conversem qualquer assunto. É que estou me sentindo sozinha, entende? Um silêncio inquietante e ninguém que queira compartilhá-lo comigo. É vazio. Quero gritar, quero chorar, não quero ficar parada. Quero só ficar em casa ou correr nua na rua. Não quero nada. Devia ser diferente agora, você pode ver isso? Mas eu ainda estou aqui. Definhando as entrelinhas que você deixou mal riscadas nas minhas paredes. Tudo pichado em saudade e palavras não ditas. Até o pão ficou pela metade quando você saiu aquela manhã. Volte e me conte seus segredos. Vá embora e me esqueça ainda ontem. Já gritei tantas coisas com esse silêncio maldito, mas não há mais quem decifre a minha insônia ou me ache perdida em minha falta de dizer. Onde está mesmo você que não aparece para abraçar meus medos e fazê-los desaparecer dentro do calor que esquenta minha pele, minhas mãos, meu juízo todo ao som de fogueira? Não há nada agora aqui comigo além da espera. Que volte, que seja, que renasça... Ou que morra de uma vez.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Olhos no escuro

Me jogue fora. Estou em desuso agora. Não há mais utilidade quando se deixa de ser para fazer o que vem à mente. Confusões da minha mentira não dita. Maldita laceração doentia que arde. Vem ardendo há tanto tempo que não consigo mais deixar de sentir. Há dias em que a dor não existe, mas o pulsante está lá. Por dentro, raspando seus dentes internos por minha carne meio frágil. Sendo corroída por dentro. Me coloque num rio com as mãos amarradas às costas, me afogue num mar de águas salgadas sufocando, então. Eu mereço. Se não sirvo mais para o que me designei, então estou aqui por coisa nenhuma. Sem propósito, apodrecendo. Hoje não está doendo, mas eu sinto arder. Arranque de mim um por um, ajunte meus demônios num quarto escuro e os prenda na sala com as paredes gritando o sangue que escorre até o chão. Meu vermelho, grosso, pegajoso. Garganta cortada. Som nenhum. Paz sem voz é medo. Não corra agora, espere que o sangue das paredes suje a sua sala também.

Parceiros de dança

Vinícius é a minha música mais intensa. O ritmo do contrabaixo segue o ritmo do meu coração. Hora lento, hora acelerado, é ele que marca o compasso.
Tamires é a minha música mais alta. Estridente mesmo, daquelas que dá vontade de abrir as janelas e fazer os vizinhos escutarem para dançar junto. Uma guitarra de sensações.
Lena é a minha música mais harmoniosa. Ela encaixa toda a letra na melodia de uma forma perfeita. Dá suavidade à canção intensa e alta do meu coração. Meu piano.
Priscila é a minha música mais secreta. Som de fones de ouvido para quando quero esquecer o mundo externo e cantar baixinho uma canção só minha. A flauta mais doce.
Geovane é a minha música de fim de tarde. Ele é cada acorde solto que alguma memória guarda. O acústico das minhas certezas, meu violão.
Bianca é a minha música mais alegre. Ela chama todos para a roda e se faz ontem reveladora e hoje escondida por trás dos seus segredos. Bia é samba tocado no pandeiro.
Noemy é a minha música mais vibrante. Olhares oblíquos arquitetados entre danças ciganas, abraços apertados confundindo-se com sorrisos. Castanhola simples, som vibrante.
Rebeca é a minha música mais diferente. Não há com o que se comparar quando todos os seus pedaços se encaixam e ondas espalham-se ambiente afora incomodando. Toca fundo, bate fundo, bateria.



A ordem dos fatores não altera o resultado

segunda-feira, 24 de maio de 2010

100 9dades

Título tosco, né? É que eu estou bem tosca esses dias. Nada de inspiração para escrever nem duas linhas que prestem. Só mudei tudo aqui por falta do que mudar. E eu sou tão cheia de erupções que ficar parada num canto só me enerva. Vou tendo que criar coisas, ver coisas, riscar, voltar, bagunçar... Aí está meu Incomitatus todo branquinho. Nem estou acostumada com isso e meus olhos estão doendo de tanta coisa clara. Ele preto é tão mais 'sozinho', né? Sei lá. Ainda vou ver se deixo isso aí, se não deixo... Essa postagem é só para me lembrar que eu estive num momento de crise inspiratória. Que seja. Quem precisa de inspiração quando tem um blog branco?

domingo, 23 de maio de 2010

Se não eu...

Há uma caixa escondida debaixo da mesa. Por trás do sofá da sala esconde-se um segredo meu que em breve será seu também. Não, não fique curioso. A pior maldade do homem consigo mesmo sempre foi a curiosidade. Espere por mais algum tempo e todo o conteúdo dela será desvendado. Tire as fitas, abra as cordas, destampe a caixa e perceba. Tentei mandar, embrulhado em papel qualquer, um pedaço meu e seu que você poderá guardar, poderá usar e poderá amar com um quê eterno. Espere só mais um momento. Um dia, dois... Uma semana, duas... Um momento de expectativa para uma surpresa que ficará com você todo o tempo. Eu te amo, você sabe. E se não posso mandar a mim mesma embrulhada sem papel, mando isso que é tudo o que dá para fazer quando não dá para ser.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Outro sol

A verdade é que às vezes eu também me canso. Não é um cansaço de dizer 'ah, vou jogar tudo pra cima e dane-se'. Longe disso. É só aquela sensação de que tem alguma coisa faltando. É a vontade sem descanso, é a saudade sem abraço, é o pensamento se voltando pro descaso. São imensos fins de tarde onde o sol se põe e não há como perguntar se você percebeu. Cansa que seu sol não seja o mesmo que o meu. Só não é opção descansar agora. Vai continuar cansando, como pulmões enchendo-se de ar e esvazeando em seguida. Vai continuar indo e vindo em ondas de ápice intercaladas por calmas insuportáveis e desesperos esporádicos. Constante e eu me cansando, me saturando... Até uma hora que eu me dispo de tudo isso e coloco pra fora em verborragia mal trabalhada os cuspes de arranhões profundos. E lá estão todos os meus cuspes secando na calçada. Por que tudo isso seca, se é que você me entende. Tudo isso passa. O que fica é o que há de mais intenso. Aqui comigo eu só trago as escolhas. E escolhi você. Mesmo que hoje seja sem o pôr-do-sol.

Uma noite

Hoje eu sonhei com ela. Há tanto tempo eu não tinha um sonho tão bonito. Lá estava a rede, aquele lençol que ela colocava nos olhos quando ia dormir e o cheiro inconfundível de óleo para massagem que inundava o quarto com uma corrente de lembranças. Sonhei com o jeito preguiçoso como ela chamava o meu nome e esperava que eu me aproximasse lentamente da rede que balançava num ritmo constante. Eu me sentei na cama à sua frente e olhei seus traços como que decorando-os. Acho que eu sabia que estava sonhando por que toquei a sua mão inchada e me debrucei sobre ela só para sussurrar que a amava. Suas unhas estavam feitas como da última vez que as vi. Aliás, suas unhas estavam sempre tão lindas! E ela vivia repetindo para mim: Tire essas unhas da boca, menina. Pare de roer unha. Então eu sorria e continuava roendo como se a minha vida dependesse disso. Ela era benevolente, eu sabia. Abracei o seu corpo frágil e tentei não colocar o peso do meu corpo sobre o dela, mas ela me abraçou com força e eu me senti segura. Incrível como eu poderia ser bem mais forte que ela, mas me sentia pequena em seu abraço. "Acho que perto da mãe a gente é sempre criança", minha mãe disse ontem. Bem, talvez perto da vó a gente seja também. Mesmo que isso esteja acontecendo só num sonho. Ela sussurrou de volta para mim que me amava e depois disse: 'Catita, ligue o ventilador para vovó, sim?' E eu me soltei dela para obedecer àquele pedido que parecia o último e mais importante das nossas vidas. Liguei o ventilador, apaguei a luz e saí do quarto. Acordei com o despertador para a escola e levantei ainda sentindo o cheiro do óleo de massagem. Deixei-a lá. E talvez ela ainda durma em alguma rede que balança calmamente dentro de mim.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Quem sou eu

Eu sou mais medrosa que você. Sofro por tanta gente, sofro até por mim mesma, sofro por antecedência - e isso me mata. Às vezes acho que gosto de sofrer.
Nunca espero o melhor por que tenho medo de me decepcionar, mas, no fundo no fundo, espero coisas boas.
Eu tenho medo de tudo, mas sou bem inconsequente. Me jogo de cabeça e, às vezes eu caio, às vezes eu vôo. Mas sempre me jogo, morrendo de medo.
Não vejo todo mundo bom, sinto tantas pessoas sendo más por excelência que fico assustada. Eu vejo a merda do mundo, mas não faço nada por ele. Me tranco no meu mundo particular e fico quieta.
Gosto de ajudar, mas não tenho paciência com quem não quer ser ajudado. Aprendi com meu próprio exemplo que não se ajuda a quem não quer.
Eu falo uma vez: Olha, não vai por aqui.
Se a pessoa escuta e continua indo, eu coloco meus fones de ouvido e vou escutar alguma coisa legal.
Eu sou livre desse jeito,sabe? Escuto rock - não os pesados por que me dão dor de cabeça -, samba, forró, axé, black, pop e por aí vai. Tudo que me faz bem, eu escuto! E também acho que tem música para todos os momentos.
Às vezes eu escuto músicas felizes quando estou triste e elas me ajudam a espantar os fantasmas de antes de dormir.
Ah, eu tenho fantasmas antes de dormir,sabe? Sempre fico muito tempo pensando nas coisas que fiz ou não fiz, disse ou não disse.
Eu já ri sozinha, já chorei na frente do computador, já amei sem nunca ver...
E uma vez até me apaixonei por uma garota sem querer.
Foi uma loucura, uma confusão, mas me reinventei e estou aqui outra vez.
Cheia de histórias na bolsa, sem bagagem de mão.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Bifurcação

Eu estava correndo ladeira abaixo como se tivesse a polícia de mil cidades nos meus calcanhares, mas só queria mesmo era chegar em casa. Como ousava ser tão indiscreto e pular os meus muros desse jeito? Eu ali, perdidamente apaixonada por seu irmão, estava agora mais que confusa com os toques dele e aquele aperto que esperava fundir nossos corpos. É, era exatamente isso que ele planejava fazer. Juntar os nossos corpos para tirar o meu príncipe encantado da minha cabeça. Por que desde quando corpo e cabeça podem trabalhar juntos? É como amarelo e azul. Ou é um, ou outro ou tudo passa a ser verde. O que estou falando agora? Meus sentimentos são verdes? Logo eu que me achava tão madura, gritei para as paredes vazias do meu apartamento solitário. O irmão, resmunguei tirando os sapatos sujos de qualquer coisa da rua. Que fosse o primo, um conhecido, que não fosse ninguém! E com tanta mulher na terra, por que o cafajeste viria em busca da princesa? Eu estava tão feliz em meu castelo... Como eu preciso de uma luz, meu Deus! Preciso que esse homem me deixe em paz para seguir feliz. Eu era tão feliz e agora é só confusão na minha cabeça. Seu nome não é Dona Flor, me lembro. Acho que está me crescendo é uma vontade de bater com tudo na parede até esmiuçar todos os pedaços e misturar coração, cabeça, vontade e meu erro mais injusto. Vontade louca pelo irmão do príncipe. Me jogo na cama, olho o teto por alguns minutos e respiro fundo outra vez. Tudo bem, eu nunca gostei mesmo de cavalos.

sábado, 15 de maio de 2010

domingo, 9 de maio de 2010

Taíse Lisbela - 31.12.2009

Sei lá, Tai... Hoje eu parei pra pensar em todas as voltas que a vida dá. Talvez por que é seu aniversário ou simplesmente talvez seja por que um velho ano se vai e outro vem por aí com força total de construção, destruição e reconstrução assim como esse que passou. Então eu percebi que preciso dizer algumas coisas a você.
A primeira delas é que não me ressinto das reviravoltas que acontecem no nosso acaso já que uma delas me trouxe você um dia, né? Naquele momento das nossas vidas em que precisamos de um apoio, uma mão amiga, um colo.. Lá estava a reciprocidade de sentimentos que, no momento, se fizeram sinceros e eternos. Eternizados no tempo pela beleza e simplicidade com que vieram, ficaram, passaram, permaneceram... Seja em nossas mentes, nossos corações, nosso passado!
Amo o jeito como a vida aconteceu pra nós de maneira a cruzar nossos caminhos e deixar contigo um pedaço de mim e comigo um pedaço seu que ficará guardado na parte sua de mim para sempre!
Não me desgosto pelo desencontro nem pela decepção. Não estou triste por ter me afastado ou chorado. Não quero, hoje, lembrar de coisas tristes. Só quero amar você e deixar que você saiba disso. Como uma lufada de ar frio que desse pelas costas, como uma mão gelada que nos toca, nosso passado é prazeroso e assustador. Por que ele nos lembra o quanto o futuro é incerto. Nos lembra o quanto as ondas podem nos empurrar em direções opostas às que planejamos pra nós mesmos. Mas uma coisa é certa, Taíse. Nesse dia meio triste, meio retrospectivo, eu quero deixar claro que você me mudou, me marcou e me ensinou como nenhuma outra pessoa fará.
Por que você é única, especial e diferente ao seu próprio tom. Você é bemol com uma coragem em sustenido, você é criança com uma asa de mãe, você é tristeza disfarçada e felicidade angustiante... Você é o conjunto de todas as coisas boas e a pitada de coisas que desagradam. Mas essa é você! E que te aceitem como é ou pisem fora levando um pedacinho de recordação. Trago comigo um pedaço seu de recordação, minha amiga. E te parabenizo hoje por que são dezenove anos deixando pedaços com algumas pessoas e crescendo cada dia mais um pouco com os pedaços que te dão. Sendo assim, que seu dia seja o melhor por que você merece e que tudo o que vier em 2010 seja pra te fazer uma pessoa ainda mais maravilhosa! Te amo para sempre e você sabe. Carla, sua irmã 747. ♥


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pés e partos

E lá estava ela naquele dia ensolarado de fevereiro, na ilha, andando pululante pelas areias branquinhas quando, lépida e fagueira, pisou numa fogueira. Daquelas com brasas fingidas que parecem apagadas, mas, quando pisadas, arrasam as solas dos pés das meninas serelepes e - agora - não tão felizes. A pior dor que ela já sentiu em toda a sua vida. E sua tia, bondosa que era, a acudia citando casos de mil outras queimaduras ainda piores que a dela. Como se dores maiores dos outros fizessem alguma diferença na sua própria ardência. Que dor! E que vontade de enfiar uma meia goela da sua tia abaixo. Segurou-se e a dor se foi depois de algumas bolhas e pomadas.
Ontem estava ela, grávida de oito meses e meio, em pé, quase graciosa em toda a sua protuberância, no consultório da médica que faria o parto e a ouviu perguntar calmamente.
- E então, que tipo de parto vai preferir?
Ela, com toda a certeza do mundo, respondeu.
- Normal, claro.
Talvez surpresa pela resposta tão rápida, talvez interessada pela palavra de obviedade, a doutora quis saber a razão da sua escolha.
- Mas por que normal?
- Ah, é que, quando eu tinha doze anos, eu queimei meu pé.
E sorriu como se aquilo explicasse tudo. E explicava.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Horas em cambalhota

Falando outra vez do meu monstro escondido. Minha cabeça gira. Ele me espera como se eu fosse a presa indefesa que sofre antecipadamente por algo que não posso evitar. E vem, se aproxima lentamente... O vazio. Esfrega seu pêlo em minha pele, ronrona as crueldades que me fará e, misericordiosamente, finca suas garras em minha pele rasgando a alma, o miolo, os miúdos, tudo. Continuo calada. Que palavra poderia dizer em defesa própria? A dor ainda não veio, isso é só reflexo dela. Estou sentindo por antecipação, estou me dilacerando inteira por dentro por que não sei esperar o momento certo de sofrer. Conto dias, conto horas, conto relógios inteiros em suas piruetas macabras por um tempo que não passa. Ele se arrasta. A demora deveria ser aliviante, mas só faz a agonia crescer. Você não sabe, mas estou morrendo. Você não sabe, mas estou minguando. Estou caindo e você é a única pessoa que não pode me salvar agora.

















Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. - Martha Medeiros

terça-feira, 4 de maio de 2010

Um calo

Ah que estou às voltas comigo mesma! Já não encontro um par de sapatos que não me esmague os passos e o juízo. Caminho sempre desesperada voltando ao seu caminho por que me acostumei com a estrada que lê meus pés como conto de fábulas já conhecido. Me encontrei numa esquina. A bifurcação estreita que todos conhecem poeticamente como encruzilhada da vida. Estou aqui, parada, pensando comigo mesma se melhor seria seguir à direita, à esquerda ou simplesmente continuar o meu caminho sem volta. É uma estrada estranha que já foi ritmada por cadências de viveres pincelados por um outro poeta que não eu. Nunca decidi que viria por aqui, mas não sei como voltar. Ou melhor, eu sei. Mas não quero. Preciso dar um fim a essa agonia de maledicências e aceitar que o meu melhor está bem longe do mais que tu tens me oferecido. Tão pouco que és, não poderia realmente esperar que me entregasse além daquilo que tu mesmo possuíste. Injusta que fui. Estou cansada, mal acostumada e enojada. Quando foi mesmo que comecei a calçar sapatos tão apertados e me sentir feliz apenas por tirá-los?



Inspirado na história de: Patrícia Massa

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Café amargo & Bouquet de rosas

Nunca ganhei rosas em junho, mas também nunca vi flores como algo que fosse essencialmente importante. Ontem me perguntei: E se fosse você a me dar, que sentido tudo isso teria? Elas simplesmente secariam e morreriam como as outras. E, quer saber? Flores têm cheiro de cemitério. Me lembram tudo, menos vida. Não penso que seria a maneira mais romântica de me dizer o que sente.
Sente rosas brancas e puras? Sente vermelho vivo? Sente amarelo? Será que o seu sentir e o meu querer podem ser traduzidos em cores? Ah, por favor, vamos! Leve-me a parar de pensar em rosas. Elas lembram morte e não quero pensar nas flores que me trará no dia em que o nosso amor morrer. Que gosto teria dizer que nosso amor se dissolveu em lembranças de flores? Sabor amargo de café passado. Lembranças de outros dias, poucas recordações meio suas, meio minhas... Nossas vivências entrelaçadas em paixões sujas e jogadas pelo chão. Pétalas secas e mortas que faço um esforço enorme para não voltar a citar, que me desdobro em intenções para me impedir de pisar.
Amor, nao as mande para mim no nosso dia, mande beijos de todas as cores, sabores, cheiros e texturas. Mande beijos enormes que coincidam com as nossas datas de encontros tão casuais quanto a lapela suja do seu palitó emaranhado ao meu sobretudo quente. Esquente minhas certezas e jogue os meus medos pela janela. Nada mais de flores, tudo agora só amores. Ao vivo, em cores.



Eu e Lena sem muito o que fazer numa noite de segunda-feira.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Só por hoje

Só por que hoje eu não queria pensar em você, tocou aquela música horrível que dançamos meio desengonçados no ponto de ônibus. Me lembrei da sua insistência para que eu me soltasse, entrasse no ritmo, me deixasse levar... E apertei os olhos para afastar as memórias, mas, só por que eu resolvi com todas as minhas economias que não ia pensar em você, choveu daquele jeito que a gente chamava de "chuva de beijo" e eu lembrei que meu biquine na praia ficou cheio de areia quando você foi me beijar na chuva e caímos rolando terra abaixo. Por que mesmo a gente foi parar na praia naquele dia cinza? Sei lá, não importa agora. Estou me concentrando insistentemente para não pensar em você. Todas as minhas energias têm esse foco. Não vou reparar que o seriado que vai começar na TV é aquele que você comentava comigo todos os dias. Tão engraçado que fulano era, tão interessante que a coisinha era... E eu me sentindo amiga das personagens só por que você sabia tudo da vida deles e fazia questão de me contar. Já sonhei com eles uma vez, sabia? Mas não vou reparar. Juro. Taxistas de jeito nenhum me lembram aquele dia que a gente saiu correndo do restaurante chique - você de bermuda, eu de All Star - por que era tarde demais e o ônibus das dez já passara há quarenta e cinco minutos. Minha nossa, como você fala! Eu nem sorri quando ouvi a música que você colocou naquele vídeo para mim. É, aquela mesma que foi cantada-sussurrada no meu ouvido em frente à lanchonete de um lugar far far away. Eu odeio músicas assim. Nunca gostei mesmo dessa melosidade toda. Era só fingimento. Sério. Hoje que acordei decidida a não pensar mais, todo o universo conspirou contra mim. Tudo bem, desisti, amanhã prometo tentar outra vez.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Aceldama


A minha guerra foi travada. Dentro de mim decisões transformam qualquer mosquito em conflito. Um zumbido infinito de batalhas cotidianas em espadas de desejos e razões chocando-se. Sem problemas. Quanto mais branca a parede, mais perceptíveis as manchas. Fogo que arde sem chama. Como se chama mesmo o meu espaço de guerra? Aceldama. Que em aramaico quer dizer: Campo de Sangue.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Espremendo Palavras

Sabe o que às vezes me pego pensando? Me pego pensando se a vida não seria bem mais simples se todos tocassem violão ou piano. Queria ter a leveza das mãos do pianista para costurar os sonhos em agulhas de realidade e, por trás de tanta verdade, algumas ilusões embaladas pelo som do violão. Não seria tudo mais belo se pudéssemos acordar com o som de pássaros na janela e um piano tocando na casa vizinha? Eu penso que sim. Mas penso tanta coisa quando estou sozinha. Lembro das nossas conversas sentados na cozinha, revejo a nossa falta de palavras para as coisas que só os beijos comunicam entre si e entreabro a geladeira para pensar no seu sorriso. Como se eu precisasse de algo gelado me apertando a mente para esfriar a febre incessante desse amor mal destribuído. Espremendo-me as palavras e as entrelinhas desse texto indefinido. É que está tudo correndo em mim, entende? Todo o amor, toda a saudade e as lembranças infinitas que se acumulam no presente. Esse querer que sempre foi o meu pretérito perfeito do indicativo de certeza... E eu ainda me pego pensando no violão, no piano e em você. Mas neles dois eu só penso às vezes.

domingo, 18 de abril de 2010

Orvalho

Um pingo das tuas certezas e mais o meu mar de dúvidas envolvendo-o. A noite que cobre nossos pensamentos, os colchões amassados, os lençóis mal dobrados. Tudo parte da conspiração interna que nos une. O que desejo de ti? Nada além de tudo. Desejas então de mim o que me sobra? Que tenho para oferecer que senão os meus pedaços já não tão inteiros? Aqueles que ajuntei à beira do caminho, os cacos que, esmiuçados, me furaram como espinhos. Meu sangue misturado a eles, minha vida, meu suor. O que te ofereço é o que tenho de pior. Meu melhor. Todas as partes grandes, todo o amontoado de vazio que tenho por dentro, todos os espaços em branco e mais algumas linhas ainda não escritas. Aposto todas as fichas e leva o troco contigo. Não há indecisões agora, não há coragem lá fora além da covardia em vento. O medo em tempestade que acalma aqui dentro. As noites de insônia e os pingos por lá que mal podem ser notados. Tenho em minha cama os lençóis mal dobrados. E, pela janela, tanta chuva é só orvalho.


sábado, 17 de abril de 2010

Decifra-me ou devoro-te

E ontem, numa conversa ao telefone, ele disse.
"Eu te gosto assim: Imagine um balde. Agora eu coloco todas as minhas pedras grandes dentro, coloco todas as minhas pedras médias, coloco todas as minhas pedras pequenas. Agora coloco areia e água por cima. É assim que eu te gosto."
E ela tem pensado nisso desde então.

"Eu quero te levar adiante, e quero te dar todo o valor que te cabe. Quero te sentar nos lugares que você merece sentar-se e te dar o cuidado e o respeito que você merece, quero aprender a decifrar todas esses teus enigmas cinzas e coisas que você me diz e que me deixam forte, forte, forte – e fraca de tanto querer. Quero que você perceba que abri espaço agora, e que você pode se acomodar e ficar até quando quiser.
Todos dormem já. Só em mim que a saudade não dorme.
E quase me esqueço, um pedido que quero fazer:
Confia em mim. Me dá a mão bem forte e pula comigo daqui." - Dani Cabrera

"Pai, afasta de mim este cale-se!"

- ... pois estou sozinha, Senhor. - Ela interrompeu a sua prece quando ouviu passos descendo as escadas rumo ao porão escuro onde se escondia.
- Por aqui! - alguém gritou. - Acho que encontrei alguém!
Ela encolheu-se ainda mais tentando parecer menor do que os 157 centímetros que tinha e ocupar o mínimo espaço possível, mas a sua respiração ainda parecia alta demais. Seu coração chacoalhava dentro do peito e era impossível não tremer ao sentir aquele filete de suor gelado escorrer por suas costas quentes.
- Onde ela está? - outra voz, dessa vez mais perto.
Valquíria cerrou os punhos e levantou-se devagar.
- Eu estou aqui. - sussurrou e depois mais alto: - Eu estou aqui!
Todos os homens - ela contou rapidamente seis ou sete - viraram-se para a figura magra que tremia num dos cantos fétidos daquele porão imundo.
- Então pensou que poderia esconder-se de nós? - os soldados perguntaram.
- Não, - ela respondeu. - nunca pensei que poderia me esconder de ninguém. Nunca desejei esconder meu rosto, esconder meus pensamentos, esconder a minha verdade. - a coragem presa em sua garganta foi soltando-se lentamente à medida que as palavras iam sendo cuspidas. - Eu estou aqui, como apenas mais uma mulher brasileira que deseja liberdade. Revoltei-me com essa nação desde que...


O Brasil, terra de mártires e guerreiros, lugar daqueles que não desistem por nada, palco de acontecimentos surpreendentes. País de liberdade.
Será?
Há tanto tempo acabou a ditadura e, em conseqüência disso, há tanto tempo não nos revoltamos contra a censura imposta pelo governo e pela mídia. Há tabu, há parcialidade, há incoerência. É, hoje, desconhecido o paradeiro dos jovens brasileiros que tiveram voz há tanto tempo pois a nação brasileira se calou diante de uma imprensa sensacionalista qualquer, processos de 'emburrecimento' em massa vide o Big Brother e as proibições esdrúxulas como o processo de censura na internet proposto pelo senador Azeredo.
Maquiada de "verdade absoluta", a nossa informação foi intoxicada por notícias sem sentido ou aproveitamento e nossos jovens acomodaram-se nas noções pós-modernas de individualismo. Não há mais sentimento de necessidade nacional, não existe vontade ou coragem de lutar por direitos desconhecidos pela nova juventude.
A censura não se esconde mais atrás de fardas verdes, mas está dentro de nós. Quando sentamo-nos em frente à televisão e esperamos pelas mesmas informações mastigadas, quando estamos cansados demais para ler um jornal e quando preferimos o messenger aos meios presenciais de comunicação. Estamos censurando a nossa capacidade de pensar e, em função disso, cansamos de pensar.
Ser censurado não é o pior. O que realmente preocupa é ver tantos braços cruzados diante disso.

Um tiro na boca selou o fim da breve vida de Valquíria. O corpo magro, no auge dos vinte e dois anos, jazia agora no porão da casa abandonada por soldados da ditadura.

Valquíria recebera a sua sentença por falar demais. Qual será a nossa sentença por calar-nos demais?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Pegadas

Ele esteve esperando por mim todo o tempo. Me ouviu quando meu grito confundia-se com um silêncio inerte, me consolou quando precisei de um abraço e não havia mãos por perto, cuidou de mim quando até ser eu mesma ardia como se eu fosse uma capa de mim mesma. Ele me prometeu que estaria ao meu lado enquanto caminhássemos pela areia da praia, mas eu esqueci dEle e passei a viver como se o amor que Ele sente por mim fosse meramente ilusório. Como se tudo o que eu já havia sido junto dEle não fosse mais nada. Nossa história se desvaneceu no meu mar de escolhas novas, na minha montanha de decisões confusas que não deixavam brecha nenhuma para que Ele conversasse comigo. Calei a Sua voz dentro de mim e tentei, desesperadamente, soltar a minha mão da dEle. Não foi tão fácil.
Debati-me, então, querendo ser livre desse amor que sufocava, desejando andar por trilhas minhas e me machucar com pedras quaisquer que cruzassem o meu caminho desconhecido. Eu quis soltar as minhas mãos pois entendi que não precisava mais dEle.
E Ele, de longe como permiti que ficasse, acompanhou os meus passos enquanto meus pés faziam um caminho novo sem a Sua ajuda.
Isso até hoje. Hoje, quando acordei e me senti presa à outra coisa que não o Seu amor infinito. Senti-me enlaçada por minhas próprias e sufocantes escolhas. Senti-me esmagada pelo peso das minhas decisões infundadas. Então acordei e olhei para o lado. Não havia nem sombra das suas pegadas andando comigo na areia. Hoje eu chorei.
Ele sorriu, enxugou minhas lágrimas uma a uma e disse com a mesma voz branda com a qual costumava me repreender:
- Jamais pense que nos lugares onde há só uma pegada Eu saí do teu lado. Estes foram apenas os momentos que te carreguei no colo para que a onda passasse.
Deu-me então a Sua mão outra vez e voltamos a caminhar lado-a-lado.
Deus, eu e Seu amor incondicional.





Edição Visual
Pauta: Diga-nos quem é essa pessoa que te segura pela mão?
Para: Bloínquês

terça-feira, 13 de abril de 2010

Coluna

Pode chorar, mãe. Encosta a cabeça em qualquer lugar e coloque pra fora todo esse peso que te aperta o peito. Lágrimas não vão te fazer menos mulher, não vão mudar nada, chorar não vai te fazer fraca. Só deixa sair, mãe. Inunde as ruas, inunde seus muros, inunde suas lembranças de água salgada tão sua, mas limpe toda a dor que lateja aí dentro. Pode ser o que quiser do meu lado, mãe. Eu sei que lembranças estão aí o dia inteiro te fazendo ponderar o futuro e o tanto que ele parece nublado e incerto. Há coisas que a gente espera e mesmo assim nos surpreendem quando vem. Então pode chorar, mãe. Não deixe que essa batata na garganta, esse grito sufocado, esses dias girando em sua memória fiquem onde estão. Faça com que desçam pelo ralo ou guarde-os. Dê-me todos e eu os segurarei em minhas mãos fechadas. Mãos ainda novas, mas que entendem que você precisa respirar. Falo sério, mamãe, pode chorar! Estou aqui com você pra te escutar, estou do seu lado pra te abraçar. Conta comigo, minha amiga. Se considere, hoje, minha menina e deite em meu colo pra ser pequena outra vez. Naquele vestido simples de chita, com aquela sapatilha de fivela bonita, volte a ser criança e não se prenda tanto no mundo que criou. Saia daí, mãe. Você não precisa ser forte o tempo inteiro, vamos lá. Eu estou aqui e sou sincera quando digo que pode chorar. Tempo integral de Helena não te faz imortal. Sinta-se humana, dispa-se desse peso. Pare, descanse, desabafe. Obrigada por cuidar de mim, mas se deixe ser cuidada só por hoje. Obrigada por cuidar de todos, mas deixe-os de lado pra viver, mamãe. Eu seguro as pontas pra você desabar um pouco. Fico em pé pra você sentar, então repito: mãe, pode chorar.





"Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda". - Clarice Lispector

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Louca



Uma vez, no recreio, comendo um Bis derretido, pensei isso, pela primeira vez: e se eu ficasse louca?
Vi minhas amigas trocando papéis de cartas, vi uns meninos correndo de testa suada, vi uma professora caminhar como alguém que pensava em alguém que ela encontraria no final do dia, vi tudo isso como se não pudesse ter, ver, ser. E se eu ficasse louca. Que triste para meus pais, que triste para a carteira vazia da escola, que triste para os livros plastificados com a etiqueta que dizia que era eu. Uma estudante, uma garotinha, com família, amigos, presilhas de cabelo, camisas brancas PP com um brasão que trazia um livro e um fogo. Se eu ficasse louca tudo isso seria o quê? Pra onde iriam os materiais e as pessoas e o amor? E se eu ficasse louca? Quem iria me ver babar num canto de um hospital? Existe louco em casa? Mãe ama os loucos? Louco tem amigo? Louco tem livro plastificado? Louco começa e não para mais até acabar? Louco uma vez, louca pra sempre? Converse. Respire. Pense em garotos. Pense em xampus. Vamos. Não fique louca. Mude de assunto. Pense na menina mais bonita do mundo e odeie. Dê nome pra loucura que ela deixa de ser. Sinta dor com nome que assusta menos. Caia na aula de educação física, rale o joelho, sangre, dói menos. Desembarace os cabelos e sinta que problemas se alisam. Faça o papel do Bis virar um barquinho. Isso. Conte uma piada. Se os outros rirem bastante. Se a sua estranheza puder ser amada. Qualquer coisa menos loucura. Pense naquela música da rádio. Não, você não está triste. Uma fofoca e pessoas em volta. Vá até o banheiro retocar o batom da moranguinho. O professor mais ou menos bonito, por ele. Os outros. Olhe. Os outros. Vamos. Que data mesmo? Da guerra. Que data? Qualquer coisa. Menos louca. O hino. Sujou um pouquinho da meia. Limpinha. Dê nome aos problemas. Problemas com nomes são problemas e não loucuras. Sempre evitando que ela saia. Sempre segurando. Não caia dura no meio do mundo. Não se chacoalhe no meio do pátio. Não vomite só porque sei lá o que é isso impossível de digerir e nem quero saber. Não abrace sem fim porque é preciso sentir o vento com o peito sozinho. Terrível mas tem banho quente pra distrair. Não espanque, não soque, não chore sangue, não arranque a língua, não grite, não acabe. Siga. Sorria. Mais uma prova. Mais uma festa. Mais um garoto. Sempre um pavor escondido mas nem era nada disso. Sempre uma tristeza abafada mas nem era nada disso. Sempre uma alegria exagerada que ninguém acolhe e o silêncio depois, fazendo curativos na pureza criando cascas. Um dia você será. O quê? Normal. Um dia você será. Normal. Um dia. Enquanto isso, se distraia como a professora que ama, as crianças que trocam papéis de cartas, os garotos que correm. Eles estão se distraindo também e pensando “olha, uma menina comendo Bis”.



Por: Tati Bernardi

Fantasmas



Eu e o que eu sinto. Duas coisas distintas, mas tão próximas que se confundem. Às vezes sou o que quero e às vezes deixo-me levar pelas vozes que gritam meu nome através das sombras. Converso com elas às escondidas. Deixo que minha mente vazia anestesie meu corpo quente. Frio agora sem quereres. Só matéria repleta de energia. E sigo as vozes rumo ao mundo secreto em que moram. Flutuo em direção menos segura que a que conheço, mas o que seria da certeza se não fosse a dúvida? Escuridão e tempestade só para me dar calmaria interna. Minha luz não é mais tão forte, mas, a medida que se apaga, começo a enxergar melhor o escuro. Em trevas vejo tudo. Não acenda a luz, meus olhos arderiam. Ainda prefiro as sombras com suas vozes sussurrantes que me chamam a seguí-las. Sigo em passos vacilantes, mas estou firme por dentro. Estou calma, estou serena, estou caminhando rumo ao meu próprio fim.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Um adeus

Eu me sinto tão cansada agora. Vejo as minhas forças minguando lentamente enquanto tento fingir para mim mesma que sou forte o suficiente para aguentar isso por quanto tempo seja necessário. Estou tão sem esperanças. Querendo que o tempo passe mais rápido e querendo que ele se congele por que não gosto das escolhas que fiz até aqui e tampouco das que terei que fazer daqui para frente. Quero gritar, mas não há mais nada a ser dito além de tudo o que já expus. Todas as minhas feridas abertas e não tratadas estão pulsando sua secreção fétida. Me recolho em silêncio esperando que o último sopro dessa vida sem sentido vá embora como uma derradeira demonstração de misericórdia. Qualquer coisa que passe a dor, qualquer coisa que anestesie. Seja morte, seja silêncio. Estou cansada desse coma de vivências. Minhas forças estão minguando... Dói tudo agora. Eu realmente preciso ir.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Equilíbrio

Migalhas.
Deixo pelo caminho os planos, pedaços e acontecimentos tão meus que correm contra nós dois. Cães à beirada das mesas um do outro comendo o que sobra como se o jantar não nos fosse reservado para daqui a algumas horas. Mendigamos o que nos pertence e fingimos que é satisfatório ajuntar restos.
Migalhas.
Cansada que estou de não poder trocar nada por tudo, fico no quase. Odeio metades! Meio me entrego, meio me nego, meio eu gosto, meio me arrependo. Por um triz. Estou me equilibrando sem sentido quando quero estar segura. Estou me equilibrando sem sentido quando quero voar. Anseio por extremos, mas não esse extremo de peças soltas embaralhando-se lentamente para me quebrar a cabeça.
Migalhas.
Em partes sólidas repartidas em pedaços iguais. Bom demais, mas incompleto. Pelo meio, pela metade. Vou esperar o jantar e desistir das sobras. Não mereço o resto, não preciso de quase nada além do que posso ter. Eu já tenho você, por que estaria feliz com migalhas?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vê dois

Carla Rosenvelt ~ diz:
*O jeito que ele me olha, sabe? É como se eu fosse o mundo pra ele. E ele fala cmg de um jeito que não fala com mais ninguém. E ele não faz isso escondido das pessoas não. Ele fala cmg diferente na frente de todo mundo e me olha diferente na frente de todo mundo. Ele tem um sorriso que é só dele e o sorriso dele sempre diz tanta coisa. Ele tem uma cara de bravo que é muito engraçada por que ele faz carranca mesmo. E tem uma cara de ^o) que me faz ter vontade de rir. E quando eu beijo ele no meio da rua ou do nada, ele fica dizendo "pxii pxii .. se comporta, mulher." Daí eu dou risada e ele também dá risada. E fica fingindo que vai apertar meu nariz, então eu me encolho por que odeio que apertem o meu nariz, aí ele me abraça e beija meu pescoço. Eu enterro o rosto no pescoço dele e isso é perfeito por que é como se todos os meus problemas se dissolvessem no cheiro dele. Eu podia ficar assim para sempre. Só olhando para ele, só encolhida com o nariz no pescoço dele... Só deixando ele me olhar como se eu fosse o mundo pra ele.

Conversando com Kerolz no MSN sobre o paulista que chega amanhã.

O fim

E como ousa? Como se atreve a jogar em mim essas suas sujeiras? Não estou caída, não me sinto ferida, mas estou cansada. Cansei-me do seu amor inventado feito conto-de-fadas e de suas muitas mentiras acumuladas. Estou farta! A sua presunção arrogante é tamanha que nojo se alastra por cada poro do meu corpo. Não me sinto insegura, não estou errada. Foi você quem mentiu de cara lavada, foi você que me escondeu o que pensava e fez tudo exatamente às avessas do que me dizia acreditar. Acreditar em você? Continuo tendo fé. Certeza daquelas coisas que você me prometeu, mas que estão guardadas agora num baú que outra pessoa abrirá. Uma pessoa que mereça, uma pessoa melhor. De você e para você eu ofereço a minha pena. Compaixão por uma alma que, em busca de coisas demais, perdeu-se pelo caminho.

terça-feira, 30 de março de 2010

Que ódio



Eu vou me matar. Sério!
Depois de mil anos arrumando isso aqui por que Vini me pediu para fazer alguma coisa bonitinha para ele. Cá estou percebendo que cortei o pescoço dele na foto.


É ou não é pra chorar?
Beijos, vou ali me suicidar. :*

segunda-feira, 29 de março de 2010

Efeito borboleta

Mandei tudo à merda! Não pense que pode vir me dizendo o que devo fazer e eu vou abaixar a cabeça para você como se tivesse sentimentos de pessoa sem alma. Estou no meu canto, estou parada esperando, mas isso não quer dizer que eu não tenha tomado decisão alguma. Meu silêncio diz precisamente que eu tomei a decisão de me calar. Estou aqui espreitando o meu futuro e, na borda da minha própria vida, afogo os pés no lago dos meus acontecimentos. Sim, te mandei à merda por que hoje quero ser lago. Nem correnteza forte de rio, nem ondas grandes de mar. Quero serenidade por hoje, por favor. Embala para viagem, obrigada. E você? Ah, você eu resolvo depois. Assim que tomar a decisão de decidir. Por hoje eu só quero jogar, da beirada, uma pedrinha e criar ondas em mim. Pequenas ondas. Ondas maiores. Sem o seu aval, sem a sua permissão. Não quero que me deixe só, só quero que me deixe em paz.

domingo, 28 de março de 2010

Intensa

Sou meio como o céu que não dá pra ver do início ao fim nem que esteja claro. Eu sou tão inteira apesar das minhas metades absurdas. Mesmo tentando me ver só de perfil, enxergo o outro lado no espelho. Mesmo me segurando em intensidade, eu falo que amo, eu conto o que senti, eu exagero na saudade. Sou exagerada em tudo. Não adianta o médico me mandar ir devagar. Devagar é a palavra mais bonita e hipócrita em que consigo pensar. Tão engraçadinha em sua moldura de paciência. Já eu, impaciente que sou, vou fazendo planos aos montes. Vou cansando de esperar por tudo e gritando minhas loucuras, minhas verdades, meus planos, minhas saudades. Paro só por alguns segundos para olhar o céu e dizer para mim mesma que eu não preciso vê-lo do início ao fim. Talvez as nuvens bastem.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sete Dias

E lá estava eu, ontem, voltando pra casa depois de ser assaltada no salão de beleza e pensando comigo que eu fico mais bonita quando você está para chegar. O homem veio, levou o celular que demorei três meses pra conseguir e eu continuava feliz e rindo de alguma coisa. Não me pergunte o que. Eu, de sorriso na cara com você vindo, sou muito mais bonita do que eu, de maquiagem na cara com você indo. As coisas são mais alegres ao meu redor e eu nem faço nada por isso. Vou só saltitando em nuvens. Escolho roupas que me deixam melhor, arrumo o cabelo de um jeito mais simpático, uso aqueles óculos que ficaram guardados tanto tempo e me demoro mais passando hidratante nas pernas, nos braços, me alisando a alma por que ela será em breve beijada pela sua presença. Fico com um brilho enigmático nos olhos por que você está para ser visto por eles. Tenho um sorriso de canto escondido que se mostra depois de uma piada sem graça, um acontecimento bobo e um assalto. Sim, quando você vem vindo eu rio de assaltos. Rio de nervoso, rio de bobeira, rio por nada. Rio e sou mar. Ah, as coisas são tão mais lindas quando você está. E é só saber que está perto de você chegar que as cores vêm vindo, se encaixando, entrando pelos poros de tudo que me cerca. É tudo completamente colorido agora. Por que você vem. Até as pessoas são mais interessantes por que me lembram você. São só mais alguns dias e eu vou te abraçar. Escrevi isso e sorri. Sorrio... Um pouco rio que deságua no seu mar.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Eu "entre parênteses"

Hoje resolvi lhe chamar de espelho
e dizer tudo o que sempre quis dizer pra mim.
Para além de questionamentos sobre a geminidade de nossas pessoas
vejo o meu reflexo em seus atos e passos outros.
Assim como,no espelho,meu coração bate do lado direito
e lá passo a ser canhota,
vejo, no seu, o meu rosto.
E, no centro do meu côncavo, você é minha imagem
real, invertida e igual ao objeto
Saindo do limite de total semelhança
E dentro dos limites do contraditório.

Eu navego no céu das musas, mas meu barco se destroça nas ondas das suas palavras.
E nessa história tenho orgulho de ser como Narciso, me amando tanto a ponto de beijar meu próprio reflexo na água e morrer afogada, só por amor.

Para a mais sublime extensão do meu eu, que me faz entender plenamente a frase: 'Sou mais eu, pq sou vc'!

Por: Coxise [ http://coxisecarneiro.blogspot.com/ ]

Uma tentativa inspirada.

Eu (por dentro) estou quieta (hoje)
Eu (cansada) sou triste (sempre)
Eu (sem conhecer) fico calada (quando quero)
Eu (pela manhã) não sinto fome (nunca)
Eu (simples) não sou eu (às vezes)
Eu (depois de tanto) estou meio você (perceba)

Tudo que me resta

Entrei no quarto derrubando remédios escrivaninha abaixo. Gritei o mais alto que pude sem me importar com a vizinhança que dormia. Como alguém conseguia dormir sabendo que outro alguém, bem ao lado, apodrecia? Dentro borbulhando infinitas ondas de lava quente. Devastando tudo, derrubando tudo, não há mais nada agora que não seja cinza. São pó. São cinzas num punhado. Amontoado de coisa que um dia foram vivas, um dia foram úteis, um dia respiraram. Agora é só isso. Só dor. Me encolhi no chão, juntei as pernas num abraço meu, sem largar pedaço algum fora do conjunto. Gritei outra vez e não ouvi som. Coração. Batendo além do que deveria, ecoando mais forte do que eu podia, tudo por dentro doía. Coração. Não queimou junto com tudo que a lava dissipou. Pensei comigo, será que se recomeça do zero quando se começa do amor?

domingo, 21 de março de 2010

Amigos e saudades...

E hoje me apertou o peito uma saudade imensa de você. Saudade por que sempre foi você que segurou as minhas pontas e, talvez, tenha sido sempre você que acreditou em mim de olhos fechados e ouviu as minhas besteiras mais importantes. Fiquei hoje por horas olhando as fotos do seu ano que tem passado sem mim e me perguntei quando foi que a gente se perdeu tanto. Não é só o fato d'eu não reconhecer mais as pessoas com quem você anda hoje ou de ficar sabendo que alguma coisa está acontecendo em sua vida por causa de uma conversa iniciada no MSN com uma música antiga e nada a ver com o seu momento. É mais que isso. É falar da gente no passado como se nossas resenhas tivessem data de nascimento e morte. Se era pra ter morrido alguma coisa, quero avisar que não estou descansando em paz por aqui. Quero avisar que ainda olho aquela foto que você me deu e que fica na minha agenda que você chamava de "revelações bombásticas", que ainda fico relendo os prints que tirei no ano retrasado, no começo do ano passado, em alguma época distante em que você era meu melhor amigo. E sabia tudo de mim, ouvia tudo de mim. Algum momento antes desse momento idiota que deixou a sua linha da vida continuar em movimento retilíneo uniforme e a minha dar uma volta de 180º. Não quero te deixar pra trás junto com as nossas confidências e com o carinho tão enormemente grande que sinto por você, meu amigo. Mas te desejo pra o melhor sempre e quero que saiba que você fez toda a diferença em minha vida, que você é uma das pessoas que eu mais amo no mundo e que eu vou estar sempre aqui. Nunca se sinta sozinho, nunca se sinta pequeno, nunca se sinta mal. Por que eu não aceito que você seja nada menos do que o muleque que eu amo. Paulo Geovane Santos de Mattos Junior (L)



"Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho, há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas" - Machado de Assis

sábado, 20 de março de 2010

Aleuta Coelho da Silva

Uma pluminha de ar.
Leve como a brisa.
Deixe a brisa te levar.
Viaje através dos sonhos e não tenha medo.
As opções não são ruins de nenhum jeito.
Veja além:
Ou você se tornará estrela com Papai do céu,
ou ficará com a gente e estará tudo bem.
Voe bem alto, vovó peralta.
Voe voltando na linha do tempo que sua memória guarda.
E me veja sua amiga, te contando tudo.
Veja nossas alegrias em aspiral,
Uma felicidade grande aqui.
Outra não tão grande ali,
Só não fique triste!
Vó, você nunca foi triste.
Lembro que cantava pra mim nos meus momentos de medo:
"Quando você, param pam pam
Se sentir sozinha, você .. param pam pam
Não estará sozinha por que
Papai do céu está com você!"
Então lembre-se, minha boa amiga
Não se esqueça, minha querida
Você é leve como o ar.
Se deixe voar, mas não fique triste.
Segure a minha mão.
Minhas lágrimas são só saudade.
Eu vou te amar pra sempre, você sabe.
As opções não são tão ruins.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Cobras e venenos.

Ela abraçou o próprio estômago e me encarou com desespero no olhar. Respirou fundo, soltou o ar e tentou pronunciar o meu nome entre sussurros ininteligíveis. Eu ri. Ela se contorcia quase imitando os meus movimentos e foi caindo, derretendo pela parede enquanto tentava se agarrar ao último fio de luz que passaria por suas pupilas dilatadas.
Agora eu tinha certeza de que o meu veneno circulava livremente por suas veias e não pude evitar um suspiro de satisfação quando percebi que seus olhos aterrorizados se abriam ainda mais. Ela arqueou a coluna e se limitou a jogar o pescoço pra trás, se abraçando com ainda mais força. Eu tinha pena por que percebia indiferente a inutilidade das suas tentativas de se manter viva. Todas frustradas do jeito mais patético que eu já presenciara. Pensei que, se fosse mais inteligente, simplesmente renunciaria a tudo e se deixaria ir com o pouco de dignidade que ainda lhe sobrara, mas ela já arfava pesadamente através dos pulmões debilitados.
Observei por mais alguns segundos sabendo que lhe restava pouco tempo de vida e dei as costas para seguir o meu caminho. Rastejei de volta às árvores, entrei calmamente na conhecida floresta que me escondia e, sozinha, contornei meu próprio corpo de serpente. De uma coisa eu tinha certeza, eu a matara e sequer sentia muito. Serenamente, dormi.

Ecstasy

Gelos em pêlos,
Pernas e cabelo,
Costas em bocas,
Mãos e poucas roupas.
Línguas e dentes
Que mordem, que lambem,
Que sugam, que puxam,
Que sentem!
Emaranhados com pedaços para todos os lados.
No chão, na parede,
Matando a sede em bocas alheias.
Ela alheia a tudo.
Ele alheio a todos.
Aperta, provoca,
Ele sussurra, ela implora.
Ele preenche, ela só sente
E faz!
Finca unha em pele e pede por mais.
Quer mais!
Quer tudo até receber com um murmúrio o apse num murro de punho coberto com veludo.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Vestido vermelho.

Seus cabelos escorriam por seus ombros até o meio da cintura, sua cintura apertava-se dentro do vestido vermelho, o vermelho dos seus cabelos era já desbotado perto do vibrante das alças macias do tecido fino.
Ela se perguntou quando foi que crescera tanto a ponto de achar que o vazio dentro de si ocupava mais espaço que todas as outras coisas que havia cultivado ao longo do tempo. Será que também regara aquela coisa tão neutra que ardia em si mesma?
Pensava que talvez fosse melhor ter um sentimento qualquer de desespero, tristeza, ódio, dor. Qualquer coisa que, mesmo que machucasse, lhe desse a noção de vida, mas a única coisa que sentiu quando olhou pra dentro de si mesma foi o vento. Não um vento de brisa mansa, mas um vento que não leva nada. Um vento que não balança nada, que não ameniza dor nenhuma, que não acende fogueiras nem apaga velas. Não era vento de mar, era vento de quietude.
Ela olhou no espelho por um momento infinito e imaginou-se com o cabelo mais vibrante, com o vestido mais desbotado e, ao se ver ao avesso, cuspiu a imagem mental que o espelho refletia. Preferia ser ela mesma com todo o vazio que sentia a ser qualquer outra a quem desconhecia.
Preferia não sentir nada a sentir os sentimentos de outrém. Ela gostava de não sentir se isso fosse o que o destino reservava para a pessoa que era em seu completo. Ser neutra, ser brisa. Afinal, o que seria do sol sem o seu vento?
Abafada, ela sorriu. Sem calor, sem frio. Só ela mesma preenchida por seu próprio vazio. 


    

segunda-feira, 15 de março de 2010

Fluindo

Corre dentro de mim um rio de saudade com correnteza forte. Vez ou outra deposito em suas águas o meu barco de pensamentos e o ancoro em lembranças perdidas n'algum lugar muito interno meu. São ilhas de feitos, são serenidades repletas de efeitos, são frases nos tendo por sujeitos, são crimes secretos dos quais somos suspeitos.
Desço correnteza abaixo e deságuo em mim num sentido mais amplo de me ser. Mar meu.
Minha saudade é balão de ar que se enche em mim comprimindo e escanteando qualquer outro sentimento. É beleza de nada pois o que melhor traduz saudade que senão vazio?
Num rio cheio de vontade que tem ritmo constante por fim, sou barco a vela, estou porto de espera, sou maré vazante de mim.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Suas Mãos

Sinto mãos delicadas em meus ombros. Mãos que ajeitam as cordas, mãos que cuidam de mim. Foram essas mãos que me fizeram o que sou e, por isso, sou imensamente grata.
Não chego a me lembrar de como parecia antes de tê-las me arrumando, me enfeitando, me tocando com leveza. Meus movimentos são perfeitos através do contato daquelas mãos suaves e abro a boca para agradecer, mas a voz que escuto não é a minha. Essa é a voz que acompanha as mãos. A cadência que sempre escuto quando abro a boca, no tom que eu amo.
Percebo os dedos me apertando, observo minhas pernas se dobrando e, lentamente, sou posta em meu lugar outra vez. Estou em casa, na minha caixa, lado a lado com todas as outras marionetes que ele guarda.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Outra Amiga

Tenha consciência dos seus atos, muleque.
Somos diferentes, mas a sua indiferença é sufocante.
Estou com medo, rapaz.
Você vai embora e quem sabe se não volta mais?
Olhe nos meus olhos e só finja que se importa.
Eu mesma já sei que pra você é frieza, mas meu calor deveria derreter seu gelo.
Só sinto frio.
Estou tremendo, menino.
Me abrace como você prometeu que faria.
Aliás, você prometeu isso algum dia?
Ouvi palavras demais escondidas por trás das suas verdade não ditas.
Sou tudo misturado dentro disso.
Estou tão longe enquanto você está perto.
Estou tão perto de mandar tudo à casa da porra.
Que morra!
Morra esse amor, morra essa vontade de ter mais!
Que saia da minha frente você e seu quase-amor.
Cansei de metades.
Quero você inteiro ou não quero nada mais.
Sou insegura, sou indefesa, mas aprendi a combater meus medos.
Tenho medo de mim mesma quando penso em nós dois, então aprendi a me combater.
Não vou ser mais isso e, como não posso dizer "dane-se eu", então dane-se você!



Inspirado na história de Kerolz.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Fechaduras bem minhas

Eu comecei esse texto meio sem saber pra onde ir com as palavras confusas que preciso cuspir, mas cansei de ser forte por hoje. Aliás, cansei de ser forte por tempo indeterminado e esse texto é minha bandeira branca.
Não consigo mais fingir que sua risada parou de fazer eco no telefone mudo. Duas vezes na semana passada eu o tirei do gancho repetindo pra mim mesma que tinha esquecido pra quem ia ligar de última hora. Mentira minha, claro. Gosto de ficar imaginando que, entre um "tu" e outro, há você pensativo do outro lado.
Eu fico olhando a minha própria cama - enfeitada com o único cachorrinho solitário que você me deu - e me lembrando das suas promessas de vir me acordar qualquer dia só pra que eu tivesse a surpresa de ver seu rosto assim que abrisse os olhos. Então me sinto idiota, recrimino o pensamento e começo a alimentar a certeza de que você tinha uma senso de humor ridículo. Onde já se viu querer acordar alguém de surpresa? Ridículo.
Estou escrevendo esse texto pra abrir uma porta de memórias que tranquei no dia em que você me disse que não dava mais. Naquele dia eu só fiquei muda e sorri como que dizendo que já esperava por isso. Não foi um sorriso irônico em tom de acusação, eu realmente já esperava. Todo mundo tem sua temporada de flores, mas ela sempre acaba e quase nunca se tem uma explicação. Não gritei para que me mostrasse razões por que anestesiei dentro de mim a dor crônica depois da sua pontada agúda de verdade. Eu estava destruída, você se cansara. Mas quem disse que eu ia enlouquecer e espernear? Nem pensei em perguntar se havia outra pessoa - nunca quis saber. Não planejei esperar que você mudasse de idéia. Eu simplesmente sabia.
Você teria que, como o sol faz todos os dias, ir embora um dia, mas, diferente dele, você não voltaria. Eu sabia e me muni de coragem para enfrentar as perguntas de todos e os olhares de pena. Não queria que sentissem pena de mim, mas, de verdade, não me importava se sentissem. Só me importava com a porta que você fechou e eu tranquei.
Hoje parei de olhar pela fechadura e abri esse quarto outra vez. As memórias me invadiram então sentei para escrever. Falar em forma de rabisco sobre os beijos escondidos, as risadas nervosas, aquela vez em que eu falei besteira na frente da sua mãe e você ficou me enviando seu pensamento mais forte de "cala a boca, amor", os abraços apertados nos aeroportos, as madrugadas que passamos ao telefone e todos os dias que vimos amanhecer em meio a risadas contidas e bocejos leves.
Hoje eu abri aquela porta e estaquei. A força das lembranças me atingiu em cheio, mas me recusei a trnacar tudo outra vez. Percebi que ser forte não é fingir que não se importa e deixar o homem que ama ir embora como se fosse só mais uma primavera.
Agora talvez seja tarde demais pra nós dois, mas deixei suas palavras encerrarem o efeito da minha anestesia e ouvi o "não dá mais" pela primeira vez deixando que a escorresse dentro de mim toda a dor que represei.
Sentei em algum lugar, chorei em silêncio por uma ferida antiga e peguei esse caderno pra escrever sobre você.
Eu fui bastante forte, se quer saber, mas é como você me disse aquele dia do seu jeito contido: chega uma hora que não dá mais.