quinta-feira, 1 de março de 2012

Em formato de M

Ele estava lá todo sem sentido, meio com uma cara nova, mas o cabelo de sempre. Achei engraçado o cabelo estar do mesmo jeito. Ele cresceu e não mudou nadinha, nem o corte nem a risada. E eu já mudei tanto que nem tenho mais dedos para contar as mulheres que fui no processo de lapidar quem sou. Raspando as arestas com cuidado, tirando tudo aquilo que eu julguei não me ascrescentar em nada, nessa brincadeira foi embora um pouco dele também. É estranho olhar pra ele outra vez depois de tanto tempo. Mas um estranho normal. É normal ser estranho ficar ali, parada, prevendo os movimentos de uma pessoa que você auto-conhece como a palma da mão. Auto-conhece porque ele ainda é um pedaço de mim e, toda vez que a mesma risada me faz eco por dentro, eu fico mais desesperada. Conflito mudo já que sei que passar um lápis de olho e um batonzinho é me arriscar demais. Ele perceberia que eu estou me arrumando e não quero parecer muito preocupada como que ele vai perceber em mim. Ele perceberia. Aí eu não quero dizer nada que me comprometa, mas nem eu mesma sei se ainda estou comprometida de alguma maneira. Acho que não, mas qual a minha explicação para esse texto, então? Acho que o cabelo. Depois de tanto tempo, quantas coisas mais ainda estão do mesmo jeito para ele?