quarta-feira, 5 de maio de 2010

Horas em cambalhota

Falando outra vez do meu monstro escondido. Minha cabeça gira. Ele me espera como se eu fosse a presa indefesa que sofre antecipadamente por algo que não posso evitar. E vem, se aproxima lentamente... O vazio. Esfrega seu pêlo em minha pele, ronrona as crueldades que me fará e, misericordiosamente, finca suas garras em minha pele rasgando a alma, o miolo, os miúdos, tudo. Continuo calada. Que palavra poderia dizer em defesa própria? A dor ainda não veio, isso é só reflexo dela. Estou sentindo por antecipação, estou me dilacerando inteira por dentro por que não sei esperar o momento certo de sofrer. Conto dias, conto horas, conto relógios inteiros em suas piruetas macabras por um tempo que não passa. Ele se arrasta. A demora deveria ser aliviante, mas só faz a agonia crescer. Você não sabe, mas estou morrendo. Você não sabe, mas estou minguando. Estou caindo e você é a única pessoa que não pode me salvar agora.

















Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. - Martha Medeiros

3 comentários:

  1. Genial.
    Antecipação realmente é uma lente de aumento para qualquer sensação, seja ela boa ou ruim.

    ResponderExcluir
  2. Q sensação sufocante q esse texto me passou, como se algo tivesse sido tirado de mim, sei lá... mas ficou muito bom.

    Bjs...

    ResponderExcluir
  3. Que agonia ler isso, quanta identificação de minha parte, também.
    E se nos chocarmos com o solo, que não quebremos muitos ossos.

    Um abraço.

    ResponderExcluir