sexta-feira, 28 de maio de 2010

Olhos no escuro

Me jogue fora. Estou em desuso agora. Não há mais utilidade quando se deixa de ser para fazer o que vem à mente. Confusões da minha mentira não dita. Maldita laceração doentia que arde. Vem ardendo há tanto tempo que não consigo mais deixar de sentir. Há dias em que a dor não existe, mas o pulsante está lá. Por dentro, raspando seus dentes internos por minha carne meio frágil. Sendo corroída por dentro. Me coloque num rio com as mãos amarradas às costas, me afogue num mar de águas salgadas sufocando, então. Eu mereço. Se não sirvo mais para o que me designei, então estou aqui por coisa nenhuma. Sem propósito, apodrecendo. Hoje não está doendo, mas eu sinto arder. Arranque de mim um por um, ajunte meus demônios num quarto escuro e os prenda na sala com as paredes gritando o sangue que escorre até o chão. Meu vermelho, grosso, pegajoso. Garganta cortada. Som nenhum. Paz sem voz é medo. Não corra agora, espere que o sangue das paredes suje a sua sala também.

Parceiros de dança

Vinícius é a minha música mais intensa. O ritmo do contrabaixo segue o ritmo do meu coração. Hora lento, hora acelerado, é ele que marca o compasso.
Tamires é a minha música mais alta. Estridente mesmo, daquelas que dá vontade de abrir as janelas e fazer os vizinhos escutarem para dançar junto. Uma guitarra de sensações.
Lena é a minha música mais harmoniosa. Ela encaixa toda a letra na melodia de uma forma perfeita. Dá suavidade à canção intensa e alta do meu coração. Meu piano.
Priscila é a minha música mais secreta. Som de fones de ouvido para quando quero esquecer o mundo externo e cantar baixinho uma canção só minha. A flauta mais doce.
Geovane é a minha música de fim de tarde. Ele é cada acorde solto que alguma memória guarda. O acústico das minhas certezas, meu violão.
Bianca é a minha música mais alegre. Ela chama todos para a roda e se faz ontem reveladora e hoje escondida por trás dos seus segredos. Bia é samba tocado no pandeiro.
Noemy é a minha música mais vibrante. Olhares oblíquos arquitetados entre danças ciganas, abraços apertados confundindo-se com sorrisos. Castanhola simples, som vibrante.
Rebeca é a minha música mais diferente. Não há com o que se comparar quando todos os seus pedaços se encaixam e ondas espalham-se ambiente afora incomodando. Toca fundo, bate fundo, bateria.



A ordem dos fatores não altera o resultado

segunda-feira, 24 de maio de 2010

100 9dades

Título tosco, né? É que eu estou bem tosca esses dias. Nada de inspiração para escrever nem duas linhas que prestem. Só mudei tudo aqui por falta do que mudar. E eu sou tão cheia de erupções que ficar parada num canto só me enerva. Vou tendo que criar coisas, ver coisas, riscar, voltar, bagunçar... Aí está meu Incomitatus todo branquinho. Nem estou acostumada com isso e meus olhos estão doendo de tanta coisa clara. Ele preto é tão mais 'sozinho', né? Sei lá. Ainda vou ver se deixo isso aí, se não deixo... Essa postagem é só para me lembrar que eu estive num momento de crise inspiratória. Que seja. Quem precisa de inspiração quando tem um blog branco?

domingo, 23 de maio de 2010

Se não eu...

Há uma caixa escondida debaixo da mesa. Por trás do sofá da sala esconde-se um segredo meu que em breve será seu também. Não, não fique curioso. A pior maldade do homem consigo mesmo sempre foi a curiosidade. Espere por mais algum tempo e todo o conteúdo dela será desvendado. Tire as fitas, abra as cordas, destampe a caixa e perceba. Tentei mandar, embrulhado em papel qualquer, um pedaço meu e seu que você poderá guardar, poderá usar e poderá amar com um quê eterno. Espere só mais um momento. Um dia, dois... Uma semana, duas... Um momento de expectativa para uma surpresa que ficará com você todo o tempo. Eu te amo, você sabe. E se não posso mandar a mim mesma embrulhada sem papel, mando isso que é tudo o que dá para fazer quando não dá para ser.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Outro sol

A verdade é que às vezes eu também me canso. Não é um cansaço de dizer 'ah, vou jogar tudo pra cima e dane-se'. Longe disso. É só aquela sensação de que tem alguma coisa faltando. É a vontade sem descanso, é a saudade sem abraço, é o pensamento se voltando pro descaso. São imensos fins de tarde onde o sol se põe e não há como perguntar se você percebeu. Cansa que seu sol não seja o mesmo que o meu. Só não é opção descansar agora. Vai continuar cansando, como pulmões enchendo-se de ar e esvazeando em seguida. Vai continuar indo e vindo em ondas de ápice intercaladas por calmas insuportáveis e desesperos esporádicos. Constante e eu me cansando, me saturando... Até uma hora que eu me dispo de tudo isso e coloco pra fora em verborragia mal trabalhada os cuspes de arranhões profundos. E lá estão todos os meus cuspes secando na calçada. Por que tudo isso seca, se é que você me entende. Tudo isso passa. O que fica é o que há de mais intenso. Aqui comigo eu só trago as escolhas. E escolhi você. Mesmo que hoje seja sem o pôr-do-sol.

Uma noite

Hoje eu sonhei com ela. Há tanto tempo eu não tinha um sonho tão bonito. Lá estava a rede, aquele lençol que ela colocava nos olhos quando ia dormir e o cheiro inconfundível de óleo para massagem que inundava o quarto com uma corrente de lembranças. Sonhei com o jeito preguiçoso como ela chamava o meu nome e esperava que eu me aproximasse lentamente da rede que balançava num ritmo constante. Eu me sentei na cama à sua frente e olhei seus traços como que decorando-os. Acho que eu sabia que estava sonhando por que toquei a sua mão inchada e me debrucei sobre ela só para sussurrar que a amava. Suas unhas estavam feitas como da última vez que as vi. Aliás, suas unhas estavam sempre tão lindas! E ela vivia repetindo para mim: Tire essas unhas da boca, menina. Pare de roer unha. Então eu sorria e continuava roendo como se a minha vida dependesse disso. Ela era benevolente, eu sabia. Abracei o seu corpo frágil e tentei não colocar o peso do meu corpo sobre o dela, mas ela me abraçou com força e eu me senti segura. Incrível como eu poderia ser bem mais forte que ela, mas me sentia pequena em seu abraço. "Acho que perto da mãe a gente é sempre criança", minha mãe disse ontem. Bem, talvez perto da vó a gente seja também. Mesmo que isso esteja acontecendo só num sonho. Ela sussurrou de volta para mim que me amava e depois disse: 'Catita, ligue o ventilador para vovó, sim?' E eu me soltei dela para obedecer àquele pedido que parecia o último e mais importante das nossas vidas. Liguei o ventilador, apaguei a luz e saí do quarto. Acordei com o despertador para a escola e levantei ainda sentindo o cheiro do óleo de massagem. Deixei-a lá. E talvez ela ainda durma em alguma rede que balança calmamente dentro de mim.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Quem sou eu

Eu sou mais medrosa que você. Sofro por tanta gente, sofro até por mim mesma, sofro por antecedência - e isso me mata. Às vezes acho que gosto de sofrer.
Nunca espero o melhor por que tenho medo de me decepcionar, mas, no fundo no fundo, espero coisas boas.
Eu tenho medo de tudo, mas sou bem inconsequente. Me jogo de cabeça e, às vezes eu caio, às vezes eu vôo. Mas sempre me jogo, morrendo de medo.
Não vejo todo mundo bom, sinto tantas pessoas sendo más por excelência que fico assustada. Eu vejo a merda do mundo, mas não faço nada por ele. Me tranco no meu mundo particular e fico quieta.
Gosto de ajudar, mas não tenho paciência com quem não quer ser ajudado. Aprendi com meu próprio exemplo que não se ajuda a quem não quer.
Eu falo uma vez: Olha, não vai por aqui.
Se a pessoa escuta e continua indo, eu coloco meus fones de ouvido e vou escutar alguma coisa legal.
Eu sou livre desse jeito,sabe? Escuto rock - não os pesados por que me dão dor de cabeça -, samba, forró, axé, black, pop e por aí vai. Tudo que me faz bem, eu escuto! E também acho que tem música para todos os momentos.
Às vezes eu escuto músicas felizes quando estou triste e elas me ajudam a espantar os fantasmas de antes de dormir.
Ah, eu tenho fantasmas antes de dormir,sabe? Sempre fico muito tempo pensando nas coisas que fiz ou não fiz, disse ou não disse.
Eu já ri sozinha, já chorei na frente do computador, já amei sem nunca ver...
E uma vez até me apaixonei por uma garota sem querer.
Foi uma loucura, uma confusão, mas me reinventei e estou aqui outra vez.
Cheia de histórias na bolsa, sem bagagem de mão.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Bifurcação

Eu estava correndo ladeira abaixo como se tivesse a polícia de mil cidades nos meus calcanhares, mas só queria mesmo era chegar em casa. Como ousava ser tão indiscreto e pular os meus muros desse jeito? Eu ali, perdidamente apaixonada por seu irmão, estava agora mais que confusa com os toques dele e aquele aperto que esperava fundir nossos corpos. É, era exatamente isso que ele planejava fazer. Juntar os nossos corpos para tirar o meu príncipe encantado da minha cabeça. Por que desde quando corpo e cabeça podem trabalhar juntos? É como amarelo e azul. Ou é um, ou outro ou tudo passa a ser verde. O que estou falando agora? Meus sentimentos são verdes? Logo eu que me achava tão madura, gritei para as paredes vazias do meu apartamento solitário. O irmão, resmunguei tirando os sapatos sujos de qualquer coisa da rua. Que fosse o primo, um conhecido, que não fosse ninguém! E com tanta mulher na terra, por que o cafajeste viria em busca da princesa? Eu estava tão feliz em meu castelo... Como eu preciso de uma luz, meu Deus! Preciso que esse homem me deixe em paz para seguir feliz. Eu era tão feliz e agora é só confusão na minha cabeça. Seu nome não é Dona Flor, me lembro. Acho que está me crescendo é uma vontade de bater com tudo na parede até esmiuçar todos os pedaços e misturar coração, cabeça, vontade e meu erro mais injusto. Vontade louca pelo irmão do príncipe. Me jogo na cama, olho o teto por alguns minutos e respiro fundo outra vez. Tudo bem, eu nunca gostei mesmo de cavalos.

sábado, 15 de maio de 2010

domingo, 9 de maio de 2010

Taíse Lisbela - 31.12.2009

Sei lá, Tai... Hoje eu parei pra pensar em todas as voltas que a vida dá. Talvez por que é seu aniversário ou simplesmente talvez seja por que um velho ano se vai e outro vem por aí com força total de construção, destruição e reconstrução assim como esse que passou. Então eu percebi que preciso dizer algumas coisas a você.
A primeira delas é que não me ressinto das reviravoltas que acontecem no nosso acaso já que uma delas me trouxe você um dia, né? Naquele momento das nossas vidas em que precisamos de um apoio, uma mão amiga, um colo.. Lá estava a reciprocidade de sentimentos que, no momento, se fizeram sinceros e eternos. Eternizados no tempo pela beleza e simplicidade com que vieram, ficaram, passaram, permaneceram... Seja em nossas mentes, nossos corações, nosso passado!
Amo o jeito como a vida aconteceu pra nós de maneira a cruzar nossos caminhos e deixar contigo um pedaço de mim e comigo um pedaço seu que ficará guardado na parte sua de mim para sempre!
Não me desgosto pelo desencontro nem pela decepção. Não estou triste por ter me afastado ou chorado. Não quero, hoje, lembrar de coisas tristes. Só quero amar você e deixar que você saiba disso. Como uma lufada de ar frio que desse pelas costas, como uma mão gelada que nos toca, nosso passado é prazeroso e assustador. Por que ele nos lembra o quanto o futuro é incerto. Nos lembra o quanto as ondas podem nos empurrar em direções opostas às que planejamos pra nós mesmos. Mas uma coisa é certa, Taíse. Nesse dia meio triste, meio retrospectivo, eu quero deixar claro que você me mudou, me marcou e me ensinou como nenhuma outra pessoa fará.
Por que você é única, especial e diferente ao seu próprio tom. Você é bemol com uma coragem em sustenido, você é criança com uma asa de mãe, você é tristeza disfarçada e felicidade angustiante... Você é o conjunto de todas as coisas boas e a pitada de coisas que desagradam. Mas essa é você! E que te aceitem como é ou pisem fora levando um pedacinho de recordação. Trago comigo um pedaço seu de recordação, minha amiga. E te parabenizo hoje por que são dezenove anos deixando pedaços com algumas pessoas e crescendo cada dia mais um pouco com os pedaços que te dão. Sendo assim, que seu dia seja o melhor por que você merece e que tudo o que vier em 2010 seja pra te fazer uma pessoa ainda mais maravilhosa! Te amo para sempre e você sabe. Carla, sua irmã 747. ♥


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pés e partos

E lá estava ela naquele dia ensolarado de fevereiro, na ilha, andando pululante pelas areias branquinhas quando, lépida e fagueira, pisou numa fogueira. Daquelas com brasas fingidas que parecem apagadas, mas, quando pisadas, arrasam as solas dos pés das meninas serelepes e - agora - não tão felizes. A pior dor que ela já sentiu em toda a sua vida. E sua tia, bondosa que era, a acudia citando casos de mil outras queimaduras ainda piores que a dela. Como se dores maiores dos outros fizessem alguma diferença na sua própria ardência. Que dor! E que vontade de enfiar uma meia goela da sua tia abaixo. Segurou-se e a dor se foi depois de algumas bolhas e pomadas.
Ontem estava ela, grávida de oito meses e meio, em pé, quase graciosa em toda a sua protuberância, no consultório da médica que faria o parto e a ouviu perguntar calmamente.
- E então, que tipo de parto vai preferir?
Ela, com toda a certeza do mundo, respondeu.
- Normal, claro.
Talvez surpresa pela resposta tão rápida, talvez interessada pela palavra de obviedade, a doutora quis saber a razão da sua escolha.
- Mas por que normal?
- Ah, é que, quando eu tinha doze anos, eu queimei meu pé.
E sorriu como se aquilo explicasse tudo. E explicava.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Horas em cambalhota

Falando outra vez do meu monstro escondido. Minha cabeça gira. Ele me espera como se eu fosse a presa indefesa que sofre antecipadamente por algo que não posso evitar. E vem, se aproxima lentamente... O vazio. Esfrega seu pêlo em minha pele, ronrona as crueldades que me fará e, misericordiosamente, finca suas garras em minha pele rasgando a alma, o miolo, os miúdos, tudo. Continuo calada. Que palavra poderia dizer em defesa própria? A dor ainda não veio, isso é só reflexo dela. Estou sentindo por antecipação, estou me dilacerando inteira por dentro por que não sei esperar o momento certo de sofrer. Conto dias, conto horas, conto relógios inteiros em suas piruetas macabras por um tempo que não passa. Ele se arrasta. A demora deveria ser aliviante, mas só faz a agonia crescer. Você não sabe, mas estou morrendo. Você não sabe, mas estou minguando. Estou caindo e você é a única pessoa que não pode me salvar agora.

















Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. - Martha Medeiros

terça-feira, 4 de maio de 2010

Um calo

Ah que estou às voltas comigo mesma! Já não encontro um par de sapatos que não me esmague os passos e o juízo. Caminho sempre desesperada voltando ao seu caminho por que me acostumei com a estrada que lê meus pés como conto de fábulas já conhecido. Me encontrei numa esquina. A bifurcação estreita que todos conhecem poeticamente como encruzilhada da vida. Estou aqui, parada, pensando comigo mesma se melhor seria seguir à direita, à esquerda ou simplesmente continuar o meu caminho sem volta. É uma estrada estranha que já foi ritmada por cadências de viveres pincelados por um outro poeta que não eu. Nunca decidi que viria por aqui, mas não sei como voltar. Ou melhor, eu sei. Mas não quero. Preciso dar um fim a essa agonia de maledicências e aceitar que o meu melhor está bem longe do mais que tu tens me oferecido. Tão pouco que és, não poderia realmente esperar que me entregasse além daquilo que tu mesmo possuíste. Injusta que fui. Estou cansada, mal acostumada e enojada. Quando foi mesmo que comecei a calçar sapatos tão apertados e me sentir feliz apenas por tirá-los?



Inspirado na história de: Patrícia Massa

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Café amargo & Bouquet de rosas

Nunca ganhei rosas em junho, mas também nunca vi flores como algo que fosse essencialmente importante. Ontem me perguntei: E se fosse você a me dar, que sentido tudo isso teria? Elas simplesmente secariam e morreriam como as outras. E, quer saber? Flores têm cheiro de cemitério. Me lembram tudo, menos vida. Não penso que seria a maneira mais romântica de me dizer o que sente.
Sente rosas brancas e puras? Sente vermelho vivo? Sente amarelo? Será que o seu sentir e o meu querer podem ser traduzidos em cores? Ah, por favor, vamos! Leve-me a parar de pensar em rosas. Elas lembram morte e não quero pensar nas flores que me trará no dia em que o nosso amor morrer. Que gosto teria dizer que nosso amor se dissolveu em lembranças de flores? Sabor amargo de café passado. Lembranças de outros dias, poucas recordações meio suas, meio minhas... Nossas vivências entrelaçadas em paixões sujas e jogadas pelo chão. Pétalas secas e mortas que faço um esforço enorme para não voltar a citar, que me desdobro em intenções para me impedir de pisar.
Amor, nao as mande para mim no nosso dia, mande beijos de todas as cores, sabores, cheiros e texturas. Mande beijos enormes que coincidam com as nossas datas de encontros tão casuais quanto a lapela suja do seu palitó emaranhado ao meu sobretudo quente. Esquente minhas certezas e jogue os meus medos pela janela. Nada mais de flores, tudo agora só amores. Ao vivo, em cores.



Eu e Lena sem muito o que fazer numa noite de segunda-feira.