quarta-feira, 8 de setembro de 2010

É tempo de respirar

Como é lindo o amanhecer; ao menos para mim. O sopro do vento em completa sincronia com o respirar permitem que eu afirme neste momento que tudo posso esquecer, tudo esqueço, quando se anuncia o primeiro raiar. Deste meu sonífero e particular mundo andei reparando na constante asfixia social e não me excluo dela, ou pelo menos não totalmente. Seres apáticos não percebem a própria apatia julgando apatias alheias em tons opostos. Que tolo devaneio! Uma pitada de ignorância numa sopa de evoluções deturpadas formam a receita exata para a construção de condomínios de luxo lacrados, morros sangrentos e amnésia do respeito ao ser humano. O continente mais quente... aquele que em um momento qualquer fez nascer o homem – o rastro dele. Pobres terras possuem lugar. Talvez a falta de um bom adubo não permitiu que os frutos que migraram dali fossem prósperos, solo infértil, quase um deserto... sem chances de oásis. Ó magnificência que é regada com o descaso! Não se sabe ao certo por que tanta magnitude, acredito que seja magma... lavas que destroem por completo: preconceito. As teorias biológicas (e por que não, o óbvio) afirmam indiscutivelmente que dentro do corpo humano o sangue é vermelho. Então por que ao invés de, na identidade étnica, afirmarmos que somos negros, pardos ou causasianos (dentre outras etnias), não colocamos sangue vermelho? Uma dose de miscigenação por favor! E para acompanhar: torradas de percepção e geleia de autenticidade!
Chega de sucumbir minha vontade! Erga-se por instantes... não há controle dessa tal “maluquice” misturada com “lucidez”... mas eu não vou ficar com certeza “maluca beleza”, quero insistir um pouco mais. E, por favor, quando eu abrir os braços, ao meu ver, não dê à toa um sorriso. Não sou só um negro lindo: sou luta, insistência, paciência, orgulho; sou constantes e inacabadas vitórias. Não ame a minha raça, não ame a minha cor; respeite o ser humano que sou, respeite a humanidade que somos. Reconheça sim, ao me ver passar, a paciência e a força que me animou e não me dizimou, que me trouxe aqui, eu estou aqui! Eu concluiria essas palavras se pudesse concluir uma razão exata para o desrespeito. E como não posso, permaneço vivendo dias imaculados aguardando o “neoamanhecer”. Meu balão de oxigênio está quase vazio, mas eu não desisti de expirar. Vamos revisionar nossas apatias; podemos sacudir o viver, podemos existir...
É tempo de respirar!



texto de Rebecka Monteiro Barros.

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