quarta-feira, 18 de abril de 2012

Carnaval

Todos os meus poros estão aflitos. Meu suor abraçando sua cintura com as pernas e o ranger da cama, dos dentes, da alma. Barulho infinito misturando as cores de uma aquarela imiscível. Invisível a tensão que me envolve pelos erros, mas as mãos e os seus pecados me puxam os cabelos e eu sempre volto meio para os seus braços, meio para essa taça de desejo puro que derrama só um gole em minha pele quente.
Todas as cobertas estão aflitas. Não sabem se me cobrem ou observam você me descobrir em beijos, línguas e gemidos que são quase lamentos pela minha entrega. Porque não escondo nenhum pedaço. Em pelo, luxúria e murmúrios, eu sou a pele que o seu dente esmaga. Sou a perna que o seu lábio encontra. Sou o nome que a sua boca suspira. É o meu espírito indo dar uma volta porque a festa da noite é por conta da carne. Só por hoje, entre nós, é carnaval.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Beijo em prostituta

E eu vou te escrever uma surpresa. Porque cada um faz o que sabe e o que sei se embrulha em letras. O meu presente pra você é meio desordenado, mas, com palavras todas loucas, esse texto é todo seu. Um texto que é beijo em prostituta. Beijo na boca. Já que grita, mais que o sexo, uma intimidade louca. Um beijo que é prece por alguém que foi embora e assim desvenda o interno de um outro que não vejo. E eu sei que não te vejo, mas, ainda assim, te escrevo. Espremendo as linhas com as duas mãos, abrindo caminho em quem sou e fui para te ter mais perto um pouco do que quero ser. É que eu vou te escrever uma surpresa. Nesse texto, brincando em letras, te ofereço tudo de mim. Em meio prosa, meio poesia (e se eu pudesse até cantar, eu cantaria), o meu jeito de dizer que amo é esse aqui.

Palavras mal ditas

Mariana, Ana e o mar
Leveza, certeza e beleza de fim de tarde
Meio fada de si, meio serva por dentro
Nessa tarde ela é toda silêncio.
Nessa tarde é só Ana e o mar e, ao pôr-do-sol, ela é Mariana
A palavra mal dita fazendo carinho em seus cachos negros
Não nega a felicidade, não evita o desapego
Um pouco de sangue em versos
Mais azul que vermelho
Mar e onda, sem vento
Ana e mar, Mariana é toda silêncio.

Não posso ir

Eu estou aqui
E sou aqui
Enquanto você vai
Sempre em meus sonhos é você que sai
Estou presa nesse presente infinito
E quando sua mão me acena indo embora
Eu é que sempre fico
E simplifico dizendo que não posso ir
Porque não apenas estou aqui
Eu sou aqui
Enquanto você vai
E sua pressa é esse trem saindo às nove horas
A sua urgência devorando a minha demora
E hoje que o passado é só memória
Estou presa nesse presente infinito
É que você não se atrasou nem um minuto
E eu fiquei pra trás com o seu sorriso
Então a sua mão que me acena indo embora
Sussura, contra o vento, em meus ouvidos:
"Também estou aqui
E, enquanto não me deixar ir, eu fico."