quinta-feira, 18 de março de 2010

Cobras e venenos.

Ela abraçou o próprio estômago e me encarou com desespero no olhar. Respirou fundo, soltou o ar e tentou pronunciar o meu nome entre sussurros ininteligíveis. Eu ri. Ela se contorcia quase imitando os meus movimentos e foi caindo, derretendo pela parede enquanto tentava se agarrar ao último fio de luz que passaria por suas pupilas dilatadas.
Agora eu tinha certeza de que o meu veneno circulava livremente por suas veias e não pude evitar um suspiro de satisfação quando percebi que seus olhos aterrorizados se abriam ainda mais. Ela arqueou a coluna e se limitou a jogar o pescoço pra trás, se abraçando com ainda mais força. Eu tinha pena por que percebia indiferente a inutilidade das suas tentativas de se manter viva. Todas frustradas do jeito mais patético que eu já presenciara. Pensei que, se fosse mais inteligente, simplesmente renunciaria a tudo e se deixaria ir com o pouco de dignidade que ainda lhe sobrara, mas ela já arfava pesadamente através dos pulmões debilitados.
Observei por mais alguns segundos sabendo que lhe restava pouco tempo de vida e dei as costas para seguir o meu caminho. Rastejei de volta às árvores, entrei calmamente na conhecida floresta que me escondia e, sozinha, contornei meu próprio corpo de serpente. De uma coisa eu tinha certeza, eu a matara e sequer sentia muito. Serenamente, dormi.

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