terça-feira, 13 de novembro de 2012

Bengala


Segura em si mesma uma vida
Conta histórias e escarnece
Ri-se da fragilidade que incita
Assiste inerte enquanto o mundo perece

É chasco cambaleando os passos
Desfazendo toda a honra
Refazendo em pouco caso
A mão estendida àquele a quem zomba

Laços de nós


Quero te encontrar no calor do sol e o mar
Já que nos perdemos vendo a lua na areia
Fiquei sozinha com esse amor que incendeia
E as memórias que me fazem regressar

Quero te encontrar no calor do sol e o mar
Já que o frio nunca fez muito por nós dois
Se juntos, à distância, nos deixamos pra depois
Há um laço que ainda pode reatar

Quero te encontrar no calor do sol e o mar
Pelas dunas, pelas nuvens, do amor que bateu em mim
Pelas ruas que, em sonhos, são labirintos sem fim
Te persigo toda noite e te vejo evaporar

Não confesso, me disfarço
E desfaço o ponto cego
Mas a verdade meio oculta
É que eu quero te encontrar.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Carteiro-maestro


Ela se pensava estranha vestindo a roupa de outra, mas a fantasia lhe cabia tão bem. Era uma criança travessa tentando os sapatos da mãe e, com o rosto sujo de maquiagem, se sentia linda no reflexo dos olhos dele. Ele era o responsável. Como o maestro de uma sinfonia estranha com baquetas desajeitadas ainda pendendo no ar, ele era o que controlava a sinfonia. A moça sentiu falta da risada, das mentiras quase verdadeiras que contava para vê-lo sorrir e saber que cada som de felicidade era uma corda de violão, um roçar de violino, um aperto de piano entre eles. Só que os apertos entre eles foram tantos que chegaram a sufocar. Se ele se esquecesse dela, a garota se esquecia de respirar. Ela olhou pela janela tentando se imaginar a vida inteira sem aquele sorriso e teve a sensação de que conseguiria, mas, meu Deus, como não queria! Se pudesse desejar uma única coisa ao gênio da lâmpada imaginário seria só mais uma vez olhar naqueles olhos que fingiam não perceber a maquiagem errada pro seu tom de pele. Ou talvez só mais uma vez ouvir as mesmas palavras como se não soubesse que tinham errado de endereço ao chegar aos seus ouvidos. Ela desejaria só mais uma vez ser aquela que recebe a encomenda e não passa o recado. A garota guardava para si os bilhetes do carteiro-maestro, anotava todos os avisos e não avisava a ninguém. Ao contrário. Valia-se dos tickets, usava-os como vale-refeição e se alimentava disso. Vestindo a roupa de outra, sugando um amor que não se inventou para ela nem por ela, usurpando a melodia, a história, a verdade de outra que veio antes e que não lhe cabia. Não tão bem quanto a fantasia. Era mesmo uma criança travessa com sapatos maiores que os seus pés, mas, no reflexo dos olhos dele, continuava linda.


What You're Made Of 



Just like i predicted, we're at the point of no return
We can go backwards
And no corners have been turned
I can't control it, if i sink or if i swim
'Cause I chose the waters that I'm in

And it makes no difference who is right or wrong
I deserve much more than this
'Cause there's only one thing I want

If it's not what you're made of
You're not what i'm looking for
You were willing, but unable to give me any more
There's no way, you're changing
Cause somethings will just never be mine
You're not in love this time but it's allright

What's your definition of the one
What you really want him to become?
No matter what I sacrifice it's still never enough

Just like I predicted I will sink before I swim
'cause these are the waters that i'm in

Menino

If I should stay
I would only be in your way
So I'll go but I know
I'll think of you
Every step of the way

You, my darling you

Bittersweet memories,
That is all I'm taking with me
So goodbye, please don't cry
We both know I'm not what you, you need

I hope life treats you kind
And I hope you'll have
All you've dreamed of
And I wished you joy
And happiness
But above all this, I wish you love

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

The Character


He rolls himself up to a snail shape
And he unrolls his confused thoughts of why
When he thinks he found it inside of him
All he can see is an obtuse lyrical I

He discovers the role that he assumes
Presents and represents all life long
And when he doesnt fit in the melody he already chose
He quickly turns off the distorted tuneless song

The man behind the costumes melts inside of it
But the actor half snail never thinks of leaving him

So what's left in himself is makeup
Maybe all that he made up
Is now spreaded and twisted on the floor

He reminds that he is the character carrying its own knife
And the stage where he plays is the life
It cuts and it hurts but never mind: he is alive
And life itself is the best suicide

“In the circle of light on the stage in the midst of darkness, you have the sensation of being entirely alone... This is called solitude in public... During a performance, before an audience of thousands, you can always enclose yourself in this circle, like a snail in its shell... You can carry it wherever you go.” ― Constantin StanislavskiAn Actor Prepares


Tradução Adaptada:
A personagem

Ele enrola a si mesmo em formato caracol
E desenrola seu pensamento de "por que?", confuso
Quando pensa que encontrou dentro de si
Tudo o que pode ver é um eu-lírico obtuso

Ele descobre o papel que assume
Apresenta e representa toda a vida
E quando não se encaixa na melodia que escolheu
Rapidamente desliga a música desafinada e distorcida

Derrete o homem por trás do figurino
Mas o ator meio caracol nunca pensa em deixá-lo

O que sobra em si é uma miragem
Talvez tudo o que inventou, sua maquiagem
Está agora, no chão, espalhada e retorcida
Lembra-se que é o ator carregando a própria faca
E o palco em que encena é a vida

Ela corta e dói, mas não importa: ele está vivo
E a vida, em si mesma, é o melhor suicídio

“No círculo de luz sobre o palco no meio da escuridão, você tem a sensação de estar completamente sozinho... Isso se chama solidão em público... Durante uma performance, diante de uma audiência de milhares, você sempre pode fechar-se nesse círculo, como um caracol em sua concha... Você pode levar isso aonde quer que você vá.”  Constantin StanislavskiA Preparação do Ator

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Remetente: melhor amiga


Ela é a minha melhor!
Melhor amiga, melhor comediante, melhor conselheira, melhor calma pros meus momentos desesperados.
É meu outro lado da balança. Necessária pra me manter estável, sã e com cara de quem nasceu assim.
É meu diário falado,
 meu saquinho de papel. 
A mão branquela com dedos gordinhos que me segura, me apoia, me bate e me faz cafuné. Porque também tem que ter carinho, né?
Também que ter o entender o fluxo rápido de palavras que nem eu mesma entendo, tem que entender o silêncio. Menos entender olhares porque isso aí é impossível!!! Já tentei treinar essa criatura, mas a lerdeza impera. E o amor também. (Me deixe ser fofa!) 
O reflexo no espelho. Completamente igual mas completamente diferente. Presente nos piores e melhores momentos da minha vida. Se não presencial, psicologicamente. E você sabe exatamente do que eu estou falando! Ou não, porque, como eu falei, a lerdeza impera kkkkkkkk =X
Eu te amo, Carla. E todas as que você se (re)fez. 
É minha irmã. De verdade. Minha Carlete!

Feliz ano novo! *-*

"Enquanto houver você do outro lado...
Aqui do outro, eu consigo me orientar!"

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Autocombustão

Eu poderia começar a escrever dizendo que não sei bem o que me atingiu, mas não seria bem verdade. Foi você o que me atingiu e eu sei disso com toda essa certeza errada que me provoca autocombustão ao lembrar do seu sorriso. Aliás, acho que não é bem o sorriso. Acho que foi o olhar que me passou segurança. E o que é segurança pra uma pessoa perdidona dentro de si mesma, senão migalhas caindo da mesa?
Foi você que atingiu a boca do meu estômago com um soco de simpatia e aquela solicitude padrão que te faz tão britânico quanto qualquer inglês em qualquer filme. Olha, um gentleman. Olha, que droga, agora esse texto não pode mais ser abstrato por que, de repente, te personifiquei. Dei nome às personagens e, como evito fazer, te arrastei vivinho para o centro da festa. Para o meio do texto.
Não fui discreta como tenho que ser, não fui compreensiva como finjo entender. É, acabou que, no final das contas, vomitei seu endereço, vomitei você. Ah, o inglês? Eu já sei quem é. É aquele sotaque que atingiu meu cérebro quase como uma condenação. E eu fico sozinha me certificando de que não estou apaixonada por que se ele tanto fala, eu não entendo uma palavra e odeio tanto assim, só pode ser paixão. O que mais se encaixaria nos sintomas "ódio" e "confusão"? 
Meio Alice atrás do coelho, encolho e cresço enquanto me perco. Estou longe de achar uma saída. O extintor de incêndio mais próximo fica na outra esquina. A porta de emergência está longe demais e eu, num país de sonhos, em autocombustão. Pegando fogo por dentro, mas em silêncio. Quem olha de fora só me vê apontando pra fé e remando com um sorriso na cara, mas o texto te defraudando mostra que não sou tão  Alice assim. Não tão atriz e nem a melhor de todos na arte de fingir. É que estou queimando por dentro e ninguém vê! E, se vê, me julga. E, se me julga, não percebe o desespero que é estar debaixo da mesa catando migalhas. Lambendo o chão. Fingindo acreditar que quem mente sou eu. Que a rainha de copas sou eu.
Sou aquela imperfeita, bem-intencionada que muda de opinião quase sem culpa. Quase. E que fica rindo de si mesma e pensando que, sinceramente, eu não estou apaixonada nada. Eu estou é louca! E a única solução para a minha loucura em chamas é ser aquela que incendeia a sua chuva. Que molha-queima o seu sorriso tonto e o seu olhar de bom moço. O mesmo olhar que, em silêncio, me ateia fogo por dentro.


Intertextualidade com: Set Fire to the Rain - Adele; Feliz por Nada - Martha Medeiros; Dois Barcos - Los Hermanos

"Em uma outra vida, eu seria sua garota
Nós manteríamos todas as nossas promessas,
Seriamos nós contra o mundo
Em uma outra vida, eu faria você ficar"



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Um Setembro Solitário


Sentado aqui completamente sozinho
Apenas tentando pensar em algo para fazer
Tentando pensar em alguma coisa, qualquer coisa
Apenas para me impedir de pensar em você
Mas você sabe que não está funcionando
Porque você é tudo que está em minha mente
Um pensamento sobre você é o suficiente
Para deixar o resto do mundo para trás

Bom, eu não pretendia que fosse tão longe como foi
E eu não pretendia me aproximar tanto e dividir o que nós dividimos
E eu não pretendia me apaixonar, mas me apaixonei
E você não pretendia corresponder, mas eu sei que correspondeu

Estou Sentado aqui, tentando me convencer
Que você não é a pessoa certa para mim
Mas quanto mais eu penso, menos eu acredito
E mais eu quero você aqui comigo

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Paraquedas meio suicida

Eu poderia escrever um texto sobre o cara que pixou o meu coração à facadas, mas as marcas falam mais que os meus gritos. É bem provável que a minha intenção seja escrever sobre aquele amigo por quem sou quase apaixonada e que, por um acidente de percurso, me conheceu anos depois da sua própria namorada, mas esqueço que textos sempre parecem ser mais do que são. E não estou apaixonada. Só quase.
Poderia escrever sobre uma amiga que esqueceu de responder minhas mensagens, mas a minha cota de drama estouraria os seus tímpanos.
Talvez eu devesse escrever sobre o menino proibido que espreme pimenta em algum lugar dentro de mim e, todos os dias, me contorço inteira. Menino que me arde por dentro e arranca verdades como um dente siso da alma sendo puxado com dor, mas por uma boa causa. Abrindo espaço na boca pra organizar meu sorriso e os sabores novos que ainda não conheci. Porque estar junto dele é um paraquedas. Meio suicida, meio me fazendo sentir viva.
Então lembro que não posso falar do proibido sem sentir uma pontada de culpa. É que abri o meu coração riscado para um outro bandido com canetas na mão e ele não fez questão nenhuma de esconder seus motivos. Também não fiz questão nenhuma de esconder os meus gritos.
Que encontre as partes intocadas nas paredes. Que a culpa me consuma. E que, por dentro da pimenta, ainda seja doce.


"Teus lábios são labirintos
Que atraem os meus instintos mais sacanas
E o teu olhar sempre me engana
É o fim do mundo todo dia da semana"

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Mil pedaços


Levanto perdida em memórias e me arrumo tantas vezes que o espelho condena silenciosamente a minha vaidade. Visto o meu pescoço em colar e, por dentro do reflexo, perco as contas das lembranças no espelho. É aí então que o fecho se rompe. O colar se rompe e, no fundo de mim, alguma outra coisa espalha contas pelo chão. É o barulho dos meus mil pedaços ecoando pela casa. É a certeza finalmente trazendo um pouco mais de alma. Se o colar se parte, se tudo nele espalha, não há colar que se refaça. Me perdi aos poucos, mas não perdi inteira. Ainda posso juntar contas e começar do zero. Talvez um colar novo me vista sem memórias.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Eu devo estar triste, senão estou louca


Estou dizendo que estou triste, mas nem eu mesma acredito. Parece que não faz sentido, mas faz. Porque não estou parecendo triste. Estou é fazendo umas coisas bem tristes tipo ficar em casa vendo comédia romântica e desejando dormir, dormir, dormir até afundar na cama. Marquei com uma amiga de passarmos a tarde juntas hoje e ela não veio. E fiquei agradecendo já que daí eu podia dormir mais.

Mas de manhã cedo, quando eu tive que sair pra levar as fotos do ensaio na gráfica, eu estava assoviando no onibus, lendo O diário da princesa pela segunda vez - e você sabe que eu nunca leio nada pela segunda vez -, ouvindo músicas alegres e sorrindo para o motorista.

Meu amigo me perguntou cadê aquele menino que eu ficava falando na webcam enquanto estava na faculdade, eu abanei a mão e disse "ah, sabe que eu não sei?  A gente parou de se falar e eu to triste". Daí ele me disse que eu fico triste de um jeito estranho e eu respondi assim, bem vaga, algo como:  "sim, gosto dele há quase quatro anos... To bem triste. Na verdade, to péssima"

Meu amigo olhou pra mim e riu. Ficou rindo porque eu obviamente não estava triste. Ninguém que está péssima fica saltitando na rua, abraçando colegas gays da faculdade, dividindo Mendoratos e pegando panfletos porque "coitadas dessas meninas que ficam em pé o dia todo distribuindo essas coisas que todos jogam no lixo". Ninguém que está péssima diz que está bem triste. Mas eu estou triste. E quero dormir para sempre até afundar na cama.

Também estou cansada de ficar me lamentando. Outro dia fiquei lamentando para outro amigo. "Poxa, que droga que ele não me ama". Tem lamentação mais idiota? Sei lá, fiquei me achando idiota. Não tenho nem o que lamentar sem achar que eu mesma estou sendo idiota. Já me queixei por tantas coisas diferentes, por tudo o que tinha para me queixar.

Eu fiz tudo errado da primeira vez e não deu certo. Eu fiz tudo certo da segunda vez e não deu certo de novo. Não tenho mais opções. A minha opção é ficar triste sozinha, sem ter que forçar isso nas pessoas. Por que eu simplesmente não sei traduzir isso. Essa sensação de que estou dando ctrl+v na minha própria tristeza.

"Ah, droga, eu já senti isso antes" ou "Ah, droga, não tenho ele no meu facebook, mas espera... eu também não tinha seis meses atrás". Enfim, é só copiar e colar que você vai perceber que está tudo igual. Só que agora sem esperanças, então acho que essa é uma tristeza mais desesperada que as outras. Só que desesperada e quieta, por que a voz que eu tinha pra gritar foi embora na oitava ou nona tristeza.

E também tem outra coisa estranha: eu estou feliz em todo o resto!

Isso, essa coisa, esse lugar dele que não é mais dele, que é pra ele sair e eu estou tentando expulsar falando até com Deus agora. Isso está triste, machucando, doendo e tal, mas há outras mil coisas felizes, mil coisas que me dão uma vontade enorme de brigar comigo mesma e dizer "Pára, Carla, você não tem esse direito, ele não é seu!  Não aja como uma criança mimada que acabou de perder o seu brinquedinho. Acorda, Carla, ele foi embora há meses!"

E daí eu digo! Digo isso para mim mesma e não adianta nada porque eu só fico mais triste. E as outras coisas felizes são ainda mais felizes quando eu estou triste. Dentro de mim mesma são coisas demais sendo tão diferentes que me sinto quase culpada.  Tanto pela tristeza quanto pela alegria. Não posso ser feliz perdendo o cara que eu amei por quatro anos... Não posso ser triste só por perder um cara que nunca me amou durante quatro anos.

Aí eu fico calada por que não sei o que dizer. Sinceramente eu devo estar triste, senão estou louca.

Né?

"Não briguei mais por você, porque ter você seria muito menos do que ter você. Não te liguei mais, porque ouvir sua voz nunca mais será como ouvir a sua voz. Não te escrevo porque nada mais tem o tamanho do que eu quero dizer. Nenhum sentimento chega perto do sentimento. Nenhum ódio ou saudade ou desespero é do tamanho do que eu sinto e que não tem nome." - Tati Bernardi

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Não importa

"Mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim" - Caio Fernando Abreu

terça-feira, 12 de junho de 2012

Consultório Sinistro


Queria ter inspiração hoje para escrever algo bonito, mas, ao invés disso, resolvi apenas escrever. Por que não sei mais o que fazer e, entre chorar e orar pedindo uma coisa que nem sei o quê, escrever me pareceu razoável. Afinal, nada me impede de escrever pra Deus. Como também nada me impede de fazer das letras as minhas lágrimas e das verdades no papel o meu soluço.

Vivo alardeando o meu cansaço, meu desespero ou a minha esperança amalucada. Vivo sorrindo por dentro e por fora e depois me arrependendo do que não sofri e sofrendo mais um pouco pelo que já vivi. Trazendo meu passado à tona como se ele não pudesse descansar em paz por que morreu de repente. Transformando meu passado em alma penada e o obrigando a me assombrar de TPM em TPM.

Há um nome correndo por meus dedos. Escorre da caneta em forma de menino. Seja de joelhos enquanto converso com o Altíssimo, seja sentada enquanto falo de amor, seja deitada na grama sussurrando pras estrelas, seja de pé na autoescola esperando a minha vez de conferir a digital no corredor. O nome dele corre por meus dentes, passeia por minha língua, beija os meus lábios e escapa. Escapa sem pressa e, às vezes, escondido. Se eu me distraio um segundo, repito, repito “...”.

Aí é que entra a minha chance de inventar mil razões, decifrar os motivos e tentar me convencer, com a ajuda de todas as amigas e amigos, de que ele não volta. Não houve amor, nada mais dará certo, isso é tudo ilusão. Não pode haver um “senão”, senão eu morro de esperança amalucada.  Sufocada de paixão. Desesperada.

Contando os dias, contando as horas pra vê-lo novamente e sem palavra nenhuma na mente que ensaie esse momento cômico. Por que a única palavra que os meus lábios sabem dizer é o nome dele e conversa nenhuma se sustenta num nome. A única imagem que minha cabeça sabe pensar é de um “ele” tão distante que nem sei mais se há. Ah, que se dane! Ainda faço questão de tudo e nem sei que tudo é esse que tanto me consome.

Deus me manda esperar, minha amiga me manda esperar, ele me deixa esperando sem trazer nem uma revista que eu possa folhear. Estou num consultório sinistro e os quadros da parede são quadros-fantasma. Com as pinturas renascentistas do meu passado-alma-penada. Comigo ainda esperando, já meio desesperada. Sufocada de paixão. Amalucada.

Nem sei mais o que preciso fazer, mas entre chorar e orar pedindo uma coisa que nem sei o quê, hoje me pareceu razoável escrever.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Carnaval

Todos os meus poros estão aflitos. Meu suor abraçando sua cintura com as pernas e o ranger da cama, dos dentes, da alma. Barulho infinito misturando as cores de uma aquarela imiscível. Invisível a tensão que me envolve pelos erros, mas as mãos e os seus pecados me puxam os cabelos e eu sempre volto meio para os seus braços, meio para essa taça de desejo puro que derrama só um gole em minha pele quente.
Todas as cobertas estão aflitas. Não sabem se me cobrem ou observam você me descobrir em beijos, línguas e gemidos que são quase lamentos pela minha entrega. Porque não escondo nenhum pedaço. Em pelo, luxúria e murmúrios, eu sou a pele que o seu dente esmaga. Sou a perna que o seu lábio encontra. Sou o nome que a sua boca suspira. É o meu espírito indo dar uma volta porque a festa da noite é por conta da carne. Só por hoje, entre nós, é carnaval.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Beijo em prostituta

E eu vou te escrever uma surpresa. Porque cada um faz o que sabe e o que sei se embrulha em letras. O meu presente pra você é meio desordenado, mas, com palavras todas loucas, esse texto é todo seu. Um texto que é beijo em prostituta. Beijo na boca. Já que grita, mais que o sexo, uma intimidade louca. Um beijo que é prece por alguém que foi embora e assim desvenda o interno de um outro que não vejo. E eu sei que não te vejo, mas, ainda assim, te escrevo. Espremendo as linhas com as duas mãos, abrindo caminho em quem sou e fui para te ter mais perto um pouco do que quero ser. É que eu vou te escrever uma surpresa. Nesse texto, brincando em letras, te ofereço tudo de mim. Em meio prosa, meio poesia (e se eu pudesse até cantar, eu cantaria), o meu jeito de dizer que amo é esse aqui.

Palavras mal ditas

Mariana, Ana e o mar
Leveza, certeza e beleza de fim de tarde
Meio fada de si, meio serva por dentro
Nessa tarde ela é toda silêncio.
Nessa tarde é só Ana e o mar e, ao pôr-do-sol, ela é Mariana
A palavra mal dita fazendo carinho em seus cachos negros
Não nega a felicidade, não evita o desapego
Um pouco de sangue em versos
Mais azul que vermelho
Mar e onda, sem vento
Ana e mar, Mariana é toda silêncio.

Não posso ir

Eu estou aqui
E sou aqui
Enquanto você vai
Sempre em meus sonhos é você que sai
Estou presa nesse presente infinito
E quando sua mão me acena indo embora
Eu é que sempre fico
E simplifico dizendo que não posso ir
Porque não apenas estou aqui
Eu sou aqui
Enquanto você vai
E sua pressa é esse trem saindo às nove horas
A sua urgência devorando a minha demora
E hoje que o passado é só memória
Estou presa nesse presente infinito
É que você não se atrasou nem um minuto
E eu fiquei pra trás com o seu sorriso
Então a sua mão que me acena indo embora
Sussura, contra o vento, em meus ouvidos:
"Também estou aqui
E, enquanto não me deixar ir, eu fico."

quinta-feira, 1 de março de 2012

Em formato de M

Ele estava lá todo sem sentido, meio com uma cara nova, mas o cabelo de sempre. Achei engraçado o cabelo estar do mesmo jeito. Ele cresceu e não mudou nadinha, nem o corte nem a risada. E eu já mudei tanto que nem tenho mais dedos para contar as mulheres que fui no processo de lapidar quem sou. Raspando as arestas com cuidado, tirando tudo aquilo que eu julguei não me ascrescentar em nada, nessa brincadeira foi embora um pouco dele também. É estranho olhar pra ele outra vez depois de tanto tempo. Mas um estranho normal. É normal ser estranho ficar ali, parada, prevendo os movimentos de uma pessoa que você auto-conhece como a palma da mão. Auto-conhece porque ele ainda é um pedaço de mim e, toda vez que a mesma risada me faz eco por dentro, eu fico mais desesperada. Conflito mudo já que sei que passar um lápis de olho e um batonzinho é me arriscar demais. Ele perceberia que eu estou me arrumando e não quero parecer muito preocupada como que ele vai perceber em mim. Ele perceberia. Aí eu não quero dizer nada que me comprometa, mas nem eu mesma sei se ainda estou comprometida de alguma maneira. Acho que não, mas qual a minha explicação para esse texto, então? Acho que o cabelo. Depois de tanto tempo, quantas coisas mais ainda estão do mesmo jeito para ele?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sonhos em italiano

Era um menino calado e meio escondido no canto da sala. Sentado na cadeira, mãos entrelaçadas entre os joelhos, pernas meio abertas e olhar perdido no chão. Não se parecia em nada com o menino que eu conhecia, mas era ele, eu tinha certeza. Engraçado como nos sonhos as nossas certezas são ainda mais absolutas...
Ele levantou os olhos e me olhou meio triste. Como se fosse culpa minha aquele silêncio todo molhando o chão da nossa casa. E eu meio desesperada por que juro que pensei ter fechado a transmissão. Mas transbordou silêncio mesmo assim. Transbordou todos os não-ditos que ainda estavam acumulados no fundo de mim. E ele me encarando, sentado na cadeira, meio triste.
Agachei à sua frente, mãos em seus joelhos, estilo super nanny. Precisava mesmo era de contato visual. Aliás, qualquer contato, qualquer pano que enxugasse esse chão molhado, essa garganta seca. E falei a única palavra que parecia ser óbvia para nós dois agora. Quase assoprando, num sibilar meio surdo, sussurrei adeus.
Ele entendeu, segurou o meu rosto e me beijou. E beijou. E o silêncio me inundando por que não havia mais nada o que dizer. Só beijo, mordida, silêncio. Na superfície de nós dois suspiro. Era o adeus mais molhado que podia existir. E o adeus foi feito pra ser seco. Seco, frio, silêncio.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Menina

Vamos lá. É ruim demais escrever um texto sobre alguém que você está gostando pelas beiradas. Por que textos são colher no meio do bolo, dedo de criança remexendo tudo por dentro e na cobertura. E eu estou gostando dele pelas beiradas. Tentando não fazer muita sujeira com esse jeito divertido e aquele olhar de "o que vem agora?" que ele sempre tem. É um homem esperando por mim de alguma maneira e eu toda menina, brincando de ser eu mesma quase sem medo nenhum. Quase. Vou tentando não acordar as borboletas com o barulho das mensagens chegando no celular. Shiu! Vou tentando não sorrir muito largo com os todos os gostares que ele sempre me dá. Vou tentando ser mais um pouco de mim do que estou acostumada a representar. E ele ainda me olha esperando que o meu quase medo seja de olhos fechados. Quase. Estou comendo pelas beiradas porque o bolo não é meu. Estou tentando não limpar as mãos no vestido e não fechar os olhos demais, não ser muito distraída.  Preciso delimitar fatias e o tanto que posso pegar. E o tanto que posso sujar e o tanto que posso gostar. Olhos de menina criança, expectativas de menina mulher. Gostando pelas beiradas por que é tudo quase perfeito. Quase.

Come on. Its hard to write a text about someone you're liking around the edges. Because texts are spons in the middle of the cake, child's finger moving it all inside and in the icing. And I am liking him around the edges. Trying not to make a mess with this fun and that look of "what is coming now?" he always has. Is a man waiting for me somehow and I - just a girl, playing at being myself almost without any fear. Almost. I'm trying not to wake the butterflies with the noise of messages arriving on the phone. Shh! I'm trying not to smile too wide with all the likes he always gives me. I'm trying to be a little more of me than I'm used to play. And he still looks at me hoping that my fear is almost with closed eyes. Almost. I am eating around the edge because this cake isn't mine. I am trying not to wipe my hands on my dress and not to close my eyes too much, don't be too distracted. I need to define slices and how much I can get. And how much mess I can make and how much I can like. Eyes of girl-child, expectations of girl-woman. Liking around the edge because it is almost perfect. Almost.

"Cuz u like me any way, anyway, all ways, always." "I do."

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Insônia

Quase cinco horas da manhã e meus neurônios fervilhando, me impedindo de dormir, sacaneando. Eu preciso escrever sobre você. Só mais um pouquinho, vai Carla, só mais um textinho. Acho que os meus dedos subconscientes estão cheios de calos por rabiscar seu nome mentalmente. E depois riscar. Por que tanto amor assim só pode ser ódio e vice-e-versa.
Eu não faço a menor ideia de por onde começar o texto por que acho que simplesmente esgotei o meu repertório a seu respeito. Infelizmente o repertório não acompanha as lágrimas. É, fiquei mesmo bobona chorando por você na madrugada, me perguntando se você ainda pensa em mim em tom de lamento e com muita pena da miserabilidade do meu ser. Ah, vá para a merda você!
Não tem graça nenhuma levantar, catar o notebook e te procurar. Meus olhos silenciosamente sempre  te procuram e é péssimo admitir que procuram no lugar certo. Lá está você um pouco feliz demais, um pouco sorridente demais. Levando a vida com toda a felicidade que eu deveria estar levando a minha, mas não estou.
É que às cinco da manhã ainda tenho fôlego para escrever sobre você. Mesmo que não haja nada pra dizer, mesmo que todas as cartas já tenham sido devolvidas ao baralho por que ficaram sobre a mesa por tempo demais. Mesmo assim ainda chuto os lençois te odiando por tudo. E te amando também por que, se impede o meu sono, só pode ser amor. Ainda.

Um estranho conhecido

Que estranha essa conversa de amigo. É você do outro lado, mas meu coração se derrete daquele jeito que um amigo fica feliz pelo outro. Meu amor está sendo envolto em barro-carinho e posso ouvir sussurros de “meu irmão” ecoando por dentro dos mesmos pensamentos que te reclamavam meu ainda ontem.
Estou ficando louca ou consigo passar os olhos apenas uma vez por sua declaração de que não quer me ver sofrer, de que se importa comigo? Consigo ler isso e não pensar que ainda vou te ter de volta, que ainda vamos nos amar como antes e… Que estranha essa sensação! Não quero que seja como antes, isso aqui é muito melhor.
Estou segura no seu abraço de amigo, na sua mão estendida, na sua madrugada perdida de joelhos por mim. Estou segura por que não estou confiando em você, seus braços, seus abraços, sua mão. Que segurança estranha! É você me colocando sob os cuidados de outro Alguém e eu agradecendo. É você me dando de bandeja e isso me comove, me transtorna, me faz sorrir.
Estou sorrindo e que sorriso estranho! Sorriso de quem sabe em quem confia e sabe que não é em você. Sorriso de quem olha para trás e entende: me apoiei nos braços de quem não tinha forças para me carregar. Hoje brincamos juntos nessa conversa estranha, nessa sensação estranha, nessa segurança estranha. E sorrimos.
Por que a melhor coisa é perder um amante para ganhar um irmão. E o nosso Pai vai gostar de saber disso!

Firework

Estava no carro voltando para casa com a família inteira depois do culto de natal e, não sei se por causa da música alegrinha tocando no rádio ou se por que eu sou assim mesmo, lembrei de você. Engraçado como a gente vai crescendo e tudo vai mudando, até as músicas que nos trazem as pessoas.
Aquela música triste, quase melancólica, que todo mundo disse ser a nossa cara quando ouviu? Ela não me lembra em nada você. Mas basta ouvir uma canção feliz, alguma coisa mais animada e com ritmo dançante e lá está você me puxando para o meio da rua para fingir que estamos num baile daqueles antigos. Eu morrendo de vergonha, você se achando um gentleman e os dois dançando no compasso que só nós dois ouvimos em nossas cabeças.
Coisas para cima me lembram a gente. Mesmo que todas as páginas sobre você tenham me deixado tão para baixo. Acho que é por que cresci demais com o sangue-tinta que gastei naquele diário e agora vejo as coisas meio daqui de cima, de um ângulo melhor. Vejo as coisas boas. As ruins eu coloco na conta de todas as lágrimas que já chorei no ano passado, no mês passado, na última TPM.
Sua amizade, seu “oi” mais animado do que todos os “oi”s de todos os caras até hoje, sua necessidade de me contar sobre o seu dia, seus pedidos de oração acompanhados de um “também vou orar por você, te devo muito”. E toda essa consideração, esse respeito e a admiração que traduzidos são um amor mais fraternal do que meu coração suporta. Tudo isso me faz sorrir até explodir.
Sorriso de dor, sorriso que é cabide na boca. Por que eu quero te ter por perto até quando for insuportável. Daí decido o que fazer. Hoje, lá no carro, meu pai me contou que, dois anos atrás, você falou para ele que eu era linda. Que eu sou linda. Depois ele disse “mas isso não faz mais diferença nenhuma agora”. Queria entender em que mundo isso não faz diferença. Você me acha linda e meu sorriso explode. São fogos de artifício que queimam um pouquinho de mim para - só mais uma vez - te fazer feliz.

"Por que você está longe demais para se importar e eu me importo demais para ficar longe."