quarta-feira, 17 de março de 2010

Vestido vermelho.

Seus cabelos escorriam por seus ombros até o meio da cintura, sua cintura apertava-se dentro do vestido vermelho, o vermelho dos seus cabelos era já desbotado perto do vibrante das alças macias do tecido fino.
Ela se perguntou quando foi que crescera tanto a ponto de achar que o vazio dentro de si ocupava mais espaço que todas as outras coisas que havia cultivado ao longo do tempo. Será que também regara aquela coisa tão neutra que ardia em si mesma?
Pensava que talvez fosse melhor ter um sentimento qualquer de desespero, tristeza, ódio, dor. Qualquer coisa que, mesmo que machucasse, lhe desse a noção de vida, mas a única coisa que sentiu quando olhou pra dentro de si mesma foi o vento. Não um vento de brisa mansa, mas um vento que não leva nada. Um vento que não balança nada, que não ameniza dor nenhuma, que não acende fogueiras nem apaga velas. Não era vento de mar, era vento de quietude.
Ela olhou no espelho por um momento infinito e imaginou-se com o cabelo mais vibrante, com o vestido mais desbotado e, ao se ver ao avesso, cuspiu a imagem mental que o espelho refletia. Preferia ser ela mesma com todo o vazio que sentia a ser qualquer outra a quem desconhecia.
Preferia não sentir nada a sentir os sentimentos de outrém. Ela gostava de não sentir se isso fosse o que o destino reservava para a pessoa que era em seu completo. Ser neutra, ser brisa. Afinal, o que seria do sol sem o seu vento?
Abafada, ela sorriu. Sem calor, sem frio. Só ela mesma preenchida por seu próprio vazio. 


    

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