domingo, 29 de agosto de 2010

Prateleiras

Felicidade demais me dá medo. Parece que sempre que alguém está feliz a ponto de explodir... Explode. Cacos de alegria caindo na cabeça de todos e nada de sorrisos sobrando. Toda a vida que se esconde por trás de olhos apertados é aprisionada além da compreensão dos fatos. Mudanças me assustam. Mesmo que sejam necessárias, mesmo que sejam pensadas e analisadas com frieza. Mudanças me enervam. Dá vontade de colocar tudo em seu lugar outra vez e organizar certezas em minhas prateleiras internas. Arrumar meus livros de vivências em ordem alfabética. É que sou inconstante mesmo. Quero sair pulando na rua, quero ficar sozinha, quero alguém me escutando e desejo que me deixem em paz. Hoje acordei indiferente. Desejando que todo o seu orgulho e frieza engasguem-se em sua garganta apertada. Que sufoque dentro da sua própria altivez. Gosto do morno e sou sempre quente demais para mim. Cansei do seu gelo por hoje. Cansei de você por hoje. Mas isso passa, não passa?



"Não vou dizer que tudo é banalidade
Ainda há surpresas, mas eu sempre quero mais
É mesmo exagero ou vaidade
Eu não te dou sossego, eu não me deixo em paz"

sábado, 28 de agosto de 2010

Be a child



"Sei que todos algum dia acordamos com a senhora desilusão sentada na beira da cama. Mas a gente vai à luta e inventa um novo sonho, uma esperança, mesmo recauchutada: vale tudo menos chorar tempo demais. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas se realizam. Criança sabe disso." - Lya Luft

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tudo bem

Não está tudo bem. E parem de perguntar se está. Parem de olhar para mim com esses olhares de pena. Me deixem em paz! Não preciso de ninguém me esperando o que fazer ou espreitando o meu sentir como se tudo dependesse de um sorriso meu. Falso sorriso meu. Não, não está tudo bem. E dane-se o que você mastiga quando quer cuspir doce. Eu estou cuspindo tudo o que há por dentro e é amargo o suficiente para não estar nada bem. Voltem às suas vidas, voltem às suas flores, seus livros, seus não-amores e me deixem sofrer. Sinceramente? Me deixem sofrer!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Envelopes.

"Ele está indo embora, menina. O seu melhor amigo vai descendo a rua e você parada na porta de casa!", meu cérebro gritava. Não adianta, repeti. Falei mil vezes que eu estava enganada, que dava para contornar, que dava para entender, que não somos tão diferentes assim, (caramba!). Mas repetir uma coisa como um mantra, não faz disso uma verdade. Ele vai a passos lentos. Esperando que eu chame de volta. Ou não. No fundo ele sabe que é exatamente assim que vai ser. E dói. Em nós dois. Do jeito mais clichê. O café que nós tomamos ainda está sobre a mesa, o sofá ainda parece desarrumado no formato exato do seu corpo e o cachorro com seu cheiro tem saudade gritando por todo o pêlo. Ele foi embora, menina. O seu melhor amigo foi embora.



"A escolha certa nem sempre vem no mesmo envelope dos bons sentimentos." - Série Cris, O amor pode esperar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Em tempos de eleição

Que me feche a garganta o grito surdo dos que têm muita alma e pouca voz. E que eu fale por eles, que grite sua vez enquanto, nos becos imundos, são retratos do meu descaso. Por que não me retiro do circo já criado em que há palhaços peraltas e leões a ser domados. Não me privo do não-orgulho e da culpa de ter o dedo apontado para o rosto da indiferença. Se há algo que toque os tambores, se há som que rufe a consciência, que badalem os sinos mais altos para que desperte do coma da dormência todo o ser que, de braços cruzados, tem pretenção de fazer a diferença. Que lutemos até o fim, que nos crucifiquemos em nome do que cremos e que nossas cabeças sejam levantas para que, antes de esmagadas, façam valer a pena a nossa causa. Por que se há cruzes em que morrer, é certo que não terminaremos nossa luta de braços cruzados.



"Eu que jamais me habituarei a mim, gostaria que o mundo não me escandalizasse" - Clarice Lispector

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Até o fim

Olha que os ventos lá fora agora estão calmos e pouco me arrastam dentro dos seus redemoinhos. Olha que a paz que me eleva é toda feita do seu sorriso e da sua segurança que tão pouco balança. Percebe então o meu medo, a minha desesperança e tudo o mais que se mistura lentamente a todas as faltas de certeza que me cospem a cara e me apertam o peito, mas me prende bem perto. Mantém o seu braço ao redor do meu ombro e me segura nos caminhos em que me falham as pernas, as palavras, os sentires. Estou vulnerável e ainda ocilo, mas decisões são decisões que, por mais balançantes que estejam, apontam uma direção. Vou por esse lado por que é o lado em que você está. Era tudo verdade quando eu disse que deito nessas horas que não passam esperando que o sono me distraia da falta que você faz. Quantos sonos me distrairiam da vida se não houvesse mais as suas cores gritando na minha sala? Deita aqui a sua cabeça no meu colo e que as calçadas da rua não te encontrem mais para além da minha porta. A minha casa te precisa. Fique e sirva-se. Welcome back.



"Mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim" - Caio Fernando Abreu