Tímida, eu?

Não, eu não sou tímida. Nunca fui, nunca serei.. Será?

"Beatriz pára em frente ao espelho e ajeita o cabelo pela última vez enquanto repete pra si mesma que é só uma pergunta. Perguntas não matam, matam? Ela faz uma careta, insatisfeita com o que vê, mas decide sair assim mesmo. Afinal, por que não? É só mais um dia e ele nem vai ta por lá mesmo. Não numa quinta-feira. Ele nunca vai nas quintas. E se... Não! A certeza é que ele não vai, então tudo vai dar certo.
- Beatriz! - dona Carmem grita da cozinha. - Você vai chegar atrasada na escola, menina!
- Não mãe, eu só tenho aula a partir do terceiro horário. - ela grita de volta e decide enrolar os cabelos num coque frouxo. Vai ficar assim. Pra que se arrumar tanto pra fazer uma pergunta? Perguntas não ofendem, ofendem? Bem, isso ela já sabia que sim... Mas não queria mesmo se lembrar disso. A pergunta de hoje era outra e não tinha possibilidade de encontrar com ele na escola. Exatamente por isso ela tinha escolhido fazer aquele jogo consigo mesma naquele dia.
Se ele for, eu pergunto. Se não for, sinto muito.
- Tchau, Bia. - dona Carmem coloca a cabeça na fresta da porta e Bia percebe um leve franzir de sombrancelhas quando seus olhares se cruzam. - Tá fazendo o que parada aí se olhando no espelho?
- Nada, mãe. Meu cabelo hoje tá uma merda, só isso.
- Nem tá. - ela sai andando pelo corredor balançando a cabeça e rindo sozinha. Esses adolescentes de hoje em dia são mesmo estranhos. O cabelo da filha ta igualzinho a todos os outros dias.
- Deixa pra lá. - Bia se ouve murmurar enquanto desfaz o coque e ajeita os cabelos em cima dos ombros. - Ele não vai ta lá. Não tem por que estar. - ela repete, tentando se convencer da verdade de suas palavras.

na escola
- Bêa... Bêa! - Larissa respirou fundo antes de estalar os dedos em frente ao rosto da amiga pela sétima vez. - E então, o que decidiu?
Beatriz arregalou os olhos como se estivesse acordando e se virou para encarar a amiga lentamente.
- Decidi que, se ele viesse, ia perguntar. - ela respondeu em voz baixa. Odiava os escândalos de Larissa sobre isso.
- Então se prepara, minha amiga... Olha quem vem descendo ali! - e apontou com o queixo.
Antes de se virar, Beatriz já sabia o que ia ver, mas não pôde conter o impulso de girar os ombros e encarar aqueles olhos frios de frente. Ela sempre fazia isso. Chegava a ser dolorido o jeito como ele prendia sua atenção dentro daquele mar vazio, mas era uma dor gostosa. Ela sentiu os pêlos da nuca se arrepiarem e o estômago embrulhar de vez. Não sabia se sentia sortuda por poder finalmente terminar com isso tudo ou desesperadamente infeliz por ele ter ido justo numa quinta-feira, mas sabia o que tinha que fazer então desprendeu seu olhar do dele e encarou Larissa de volta.
- Ótimo, me deseje sorte. - disse ela pulando pra escada e seguindo em direção ao que tinha que fazer."