Era um menino calado e meio escondido no canto da sala. Sentado na cadeira, mãos entrelaçadas entre os joelhos, pernas meio abertas e olhar perdido no chão. Não se parecia em nada com o menino que eu conhecia, mas era ele, eu tinha certeza. Engraçado como nos sonhos as nossas certezas são ainda mais absolutas...
Ele levantou os olhos e me olhou meio triste. Como se fosse culpa minha aquele silêncio todo molhando o chão da nossa casa. E eu meio desesperada por que juro que pensei ter fechado a transmissão. Mas transbordou silêncio mesmo assim. Transbordou todos os não-ditos que ainda estavam acumulados no fundo de mim. E ele me encarando, sentado na cadeira, meio triste.
Agachei à sua frente, mãos em seus joelhos, estilo super nanny. Precisava mesmo era de contato visual. Aliás, qualquer contato, qualquer pano que enxugasse esse chão molhado, essa garganta seca. E falei a única palavra que parecia ser óbvia para nós dois agora. Quase assoprando, num sibilar meio surdo, sussurrei adeus.
Ele entendeu, segurou o meu rosto e me beijou. E beijou. E o silêncio me inundando por que não havia mais nada o que dizer. Só beijo, mordida, silêncio. Na superfície de nós dois suspiro. Era o adeus mais molhado que podia existir. E o adeus foi feito pra ser seco. Seco, frio, silêncio.
"estilo super nanny" hahaha ótimo isso!
ResponderExcluirEsse tipo de situação é bem tenso. É um nó inexplicável. Gostei do texto. Bj