segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Autocombustão

Eu poderia começar a escrever dizendo que não sei bem o que me atingiu, mas não seria bem verdade. Foi você o que me atingiu e eu sei disso com toda essa certeza errada que me provoca autocombustão ao lembrar do seu sorriso. Aliás, acho que não é bem o sorriso. Acho que foi o olhar que me passou segurança. E o que é segurança pra uma pessoa perdidona dentro de si mesma, senão migalhas caindo da mesa?
Foi você que atingiu a boca do meu estômago com um soco de simpatia e aquela solicitude padrão que te faz tão britânico quanto qualquer inglês em qualquer filme. Olha, um gentleman. Olha, que droga, agora esse texto não pode mais ser abstrato por que, de repente, te personifiquei. Dei nome às personagens e, como evito fazer, te arrastei vivinho para o centro da festa. Para o meio do texto.
Não fui discreta como tenho que ser, não fui compreensiva como finjo entender. É, acabou que, no final das contas, vomitei seu endereço, vomitei você. Ah, o inglês? Eu já sei quem é. É aquele sotaque que atingiu meu cérebro quase como uma condenação. E eu fico sozinha me certificando de que não estou apaixonada por que se ele tanto fala, eu não entendo uma palavra e odeio tanto assim, só pode ser paixão. O que mais se encaixaria nos sintomas "ódio" e "confusão"? 
Meio Alice atrás do coelho, encolho e cresço enquanto me perco. Estou longe de achar uma saída. O extintor de incêndio mais próximo fica na outra esquina. A porta de emergência está longe demais e eu, num país de sonhos, em autocombustão. Pegando fogo por dentro, mas em silêncio. Quem olha de fora só me vê apontando pra fé e remando com um sorriso na cara, mas o texto te defraudando mostra que não sou tão  Alice assim. Não tão atriz e nem a melhor de todos na arte de fingir. É que estou queimando por dentro e ninguém vê! E, se vê, me julga. E, se me julga, não percebe o desespero que é estar debaixo da mesa catando migalhas. Lambendo o chão. Fingindo acreditar que quem mente sou eu. Que a rainha de copas sou eu.
Sou aquela imperfeita, bem-intencionada que muda de opinião quase sem culpa. Quase. E que fica rindo de si mesma e pensando que, sinceramente, eu não estou apaixonada nada. Eu estou é louca! E a única solução para a minha loucura em chamas é ser aquela que incendeia a sua chuva. Que molha-queima o seu sorriso tonto e o seu olhar de bom moço. O mesmo olhar que, em silêncio, me ateia fogo por dentro.


Intertextualidade com: Set Fire to the Rain - Adele; Feliz por Nada - Martha Medeiros; Dois Barcos - Los Hermanos

"Em uma outra vida, eu seria sua garota
Nós manteríamos todas as nossas promessas,
Seriamos nós contra o mundo
Em uma outra vida, eu faria você ficar"



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