segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sou palhaça

Depois de um quilo, dois meses e alguns gramas de brincadeiras bobas cuspidas por uma boca ingenuamente bendizente, aqui estou. Querendo ser feliz ao meu próprio tom. Sem precisar de ritmos diversos ou palpites controversos a respeito de quem eu sou. Não quero definições que restrinjam o meu sorriso, a minha bobagem... Felicidade.


Se é com essas cores que pinto o meu quadro de sensações, sinto muito caso não te agrade o meu jeito de viver minhas próprias emoções. São minhas. A licença poética me pertence de maneira tal que, dentro de mim, posso ser qualquer coisa que queira e, no momento, quero ser boba. E sou. Talvez esse seja o preço que pago pra ser energia fluida de uma paz que me consome.


Já ouviu falar disso? Paz que consome por dentro como se queimasse? Parece que preciso tirar a roupa de tanto que desejo que a ardência pare. Não uma roupa física que se pega com as mãos, joga-se ao chão, pisa-se, escanteia-se... Uma roupa mais espiritual, uma roupa de aura, uma vestimenta interna. É paz demais e tanta que me agonia ser a artista mais paradoxal desse circo de felicidade.


"Certas coisas são tão evidentes, apesar de inexplicáveis, que a gente não pode deixar de acreditar." - Caio F. Abreu

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Silêncio

Me visto dele e observo. Percebo intenções e sensações. Escuto palavras não ditas, capto olhares perdidos e me insiro vagarosamente num um mundo completamente mudo em que as pessoas continuam gritando seus ritmos frenéticos. Outras tantas se trancam no mesmo espaço sufocante em que estou, embora sejam protagonistas da sua própria criação. Representam. Eu não! Não é que seja de poucas palavras. Pelo menos não o tempo todo, eu diria. Mas há momentos em que a minha solidão grita e angustia-se. Sozinha. Eu apenas observo a falta de companhia e sorrio pra mim mesma pensando dentro de mim que estou muito bem assim. Comigo e só. Não quero e nem preciso de mais ninguém. Nem sons, nem sonhos. Ou voz. Abano a cabeça, encaixo-me no todo e escuto. Mais uma vez: Silêncio.


"O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio." - Clarice Lispector

Francamente?

Desconheço-me.
Olho para dentro de mim e vejo verdade. Mentira, não? Vejo felicidade - sem a velha capa de falsidade que hoje jaz rota no chão -. O meu maquinal numa superfície espelhada qualquer, finalmente retrata quem sou. Sou isso, apenas riso e sorriso. Completa. Não me falta uma parte sequer a ser preenchida - mesmo que de maneira alguma dispense o que me acrescenta -. Vida! Sem mais tantas perguntas irrespondíveis ao meu próprio respeito. Agora sou somente o que se vê, embora nem todos vejam o quão intensamento o sou.

"E a vida existe e também é bonita. E se renova. Tem lados de luz." - Caio F. Abreu

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

14.07.2005

Olhe nos meus olhos.
Agora podes ver?
Podes enxergar?
Olhe nos meus olhos
Agora podes entender?
Podes me explicar?
Olhe nos meus olhos
Vê bem lá no fundo tudo que escondi?
Percebe em meus olhos tudo o que sofri?
Olhe nos meus olhos
Verás no mais profundo um infinito de amor.
Agora esqueças tudo! Simplesmente acabou...
Olhe nos meus olhos
Vê tudo que cobre aquele sentimento?
Vê a profundidade do meu sofrimento?
Jamais olhei em teus olhos por que nunca quis que soubesse
Que por maior amor que houvesse,
Você o fez morrer.
O fez morrer com palavras
Mas muito mais com ações.
Com coisas que falavas.
Ou que fazias ou não.
O fez morrer pouco a pouco
Com cada olhar não sustentado
Com cada beijo intercalados de promessas sem fim.
E fez morrer bem lentamente
Cada vez mais intensamente
Tudo de bom que havia em mim.

"Aquilo que não nos mata, torna-nos mais fortes." - Friedrich W. Nietzsche

Um não-texto

Ocorre-me agora que tive vontade de escrever há pouco e não me lembro mais o que diria. Foi vontade flutuante que veio e foi tão mais rápido que os meus dedos e mais ágil que minha organização. Os pensamentos chegaram e saíram sem limpar os pés, sem sentar pra um lanche, sem se prender à parede, sem me sorrir por mais de um minuto. Ficaram e deixaram um sabor, um cheiro, uma marca e mais nada. Escrevo então como em homenagem a uma idéia fugitiva. Me fugiu e agora perambula por aí com seu sorriso mais bonito. Quando a encontrar, devolva-me. A preciso.


"Eu te procurei em dicionários e não encontrei teu significado. onde está teu sinônimo no mundo? onde está o meu sinônimo na vida? sou ímpar." - Clarice Lispector

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vendada


Meu Deus! Alguém tira essa cara de felicidade do meu rosto, alguém devolva o sépia, preto e branco, os tons de cinza às cores que hoje se fazem vibrantes à minha frente. Meus olhos estão deliberadamente ofuscados. nublados... E, ainda assim, as coisas são mais vivas ao meu redor. Vibração interna, externa... Percebo a vida passear no espaço-tempo com a sua roupa mais bonita. Enxergo-a com olhos apaixonados e, por favor, alguém tira esse bobo do meu sorriso? Poucos medos fazem tanto medo.. Poucos erros fazem tantos acertos. Não existe alguém assim e, se existe, por que meu? Não.. não meu. Pra mim! Bem, talvez não seja tudo isso. (quem sabe?) Talvez é apenas aquela mesma camada de perfeição que venda os olhos de qualquer apaixonado. E apaixonada vou... Relendo textos, lembrando uma voz, fantasiando sensações, falando bobagens e rindo (como nunca) de piadas particulares. Flutuo, planando, futuro chegando.. vôo! Só meu e de mais ninguém. Meu e dele... Como se fôssemos um. Tão fácil que parece quase mentira.


"É agora que quero dividir maças, achar o fim do arco-íris, pisar sobre estrelas e acordar serena." - Caio F. Abreu

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Tão meu...


Eu o conheci num dos piores momentos da minha vida e fiz dele um suporte em situações nas quais não conseguia lidar comigo mesma e meus medos. Espremi ao máximo as capacidades dele e o fiz me escutar, me entender e me ajudar quando mais ninguém seria suficiente.
Abri meu coração pra ele, mas deixei apenas que desse uma boa olhada e me avisasse o que precisava de reparos.
Ele nunca teve permissão pra entrar.
Nunca teve o direito de se enfiar em minha vida e trazer ainda mais sentimentos conflitantes, então ele não o fez.
Ficou do lado de fora observando o movimento dos pedreiros enquanto ele mesmo organizava a reconstrução dos meus muros. Me ajudou a levantar parede por parede da minha fortaleza interior e, quando a casa estava finalmente pronta - e meus muros, imponentes, me cercavam de proteção. - não podia mais vê-lo do outro lado da rua.
Eu não precisava mais dele então, pra mim, nossa história acabara ali.
Ele nunca teve permissão pra entrar.
E nesse meio tempo, nesse contratempo, nesse compasso, conheci outro laço, me envolvi em outro abraço.
Às vezes, confesso, pensava nele, agradecida, quando me via sozinha. Era raro, fiz outras amigas. Novas pessoas surgiram pra limpar a casa junto comigo.
Enquanto arrumava as coisas dentro de mim, o percebi em cada sala, corredor, parede. A simples existência da minha casa outra vez lembrava ele.
Lembrava a alegria que ele teve em me ajudar, lembrava a falta de barulho dele ao me ver ir embora sem acenar, sem olhar pra trás, sem me importar.
Tudo me trazia ele.
Os móveis, as cores, os cômodos da minha fortaleza reestruturada eram traços do rosto dele, do riso dele, do jeito dele.
Mas ele nunca teve permissão pra entrar.
Não viu o que eu tinha por dentro enquanto as coisas estavam arrumadas, mas então uma tempestade, quase tão assustadora quanto a primeira, veio levar o meu telhado e um dos muros.
Eu sentei sozinha na varanda destruída e, ao me sentir vazia, levantei os olhos pra examinar calmamente o lugar onde o tinha visto pela última vez.
Então, como se estivesse parado ali, me esperando durante todo esse tempo, ele me acenou sorrindo.
Eu estiquei as pernas, enxuguei as lágrimas, acenei de volta e, silenciosamente, gritei por ajuda. E ele veio.
Demorou pra me ajudar a consertar os estragos, mas fez tudo outra vez com o mesmo sorriso e, desta feita, eu o mantive na varanda pra uma conversa de amigos. Um bolinho, um chá. Havia tantas coisas que eu queria contar...
Ele me escutou, comentou e riu comigo até eu avisar que era hora de ir e entrar em casa sem o convidar.
Dessa vez ele parou à porta e, olhando calmamente em meus olhos, não me deixou fechar.
Entrou de fininho, jogou as coisas no sofá e foi ficando. Eu fui gostando, mas tudo bem.
Sempre fui mais ele do que qualquer outro cara que convidei a ficar. Sempre lembrei mais dele e sempre sorri mais por ele. Apenas nunca senti merecer sua presença em minha casa e, por isso:
Ele nunca teve permissão pra entrar.
Até que um dia trouxe as coisas e passou a morar lá. Dentro da minha casa, minha fortaleza, meu coração. Pra estar em meus pensamentos ele nunca pediu minha permissão.

"Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O Amor." - Drummond

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Memory



Então .. Hoje eu senti falta dele. Uma falta estranha que há muito eu não sentia... Como se ele fosse uma ferida mal cicatrizada que "ainda lateja louca nos dias de chuva". Senti falta do jeito infantil que ele falava comigo, das brincadeiras bobas, dos contatos suaves, das músicas que mandava. Me aperta uma saudade sufocante até das nossas brigas idiotas. Penso nelas como uma necessidade pra que a reconciliação fosse ainda mais forte. Estou angustiada agora. Quando imaginei ter me limpado de toda a podridão desse sentimento machucado, quando pensei ter jogado fora todos os cacos do pedaço de coração que ele me devolveu... Aqui estou eu, sentindo outra vez. E sentindo muito, e sentindo saudade. Da risada dele, do sarcasmo, do toque inesperado. Sinto falta até da frieza. A frieza calculada pra que eu sofresse, mas não demais. E não de menos. Uma frieza que acompanhava um pedido de desculpas. Meu, dele, nosso. Sinto falta do "nosso". E não devia sentir... Eu sei. Mas sinto. E dói.

"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente." - Drummond