Pare. Eu quero que pare. Que o vento pare, que as borboletas brinquem de estátua em meu estômago, que até a respiração seja suspensa e só a música deve continuar. Por que a música nunca pára. Mas, de você, eu me recuso a receber esse beijo. Paro seus lábios e as minhas expectativas no meio do caminho: não vou resumir tudo o que somos num beijo de despedida. Aliás, nunca mais eu quero beijos de despedida, nunca mais na vida! Então fique longe, dê dois passos curtos para trás e me deixe olhar para você. Só mais uma vez. Só mais um milhão de vezes enquanto imagino o beijo que parou junto a centenas de borboletas. Não vou diminuir o seu sorriso, seu olhar de bobo, sua mão meio fria segurando a minha, sua timidez escancarada, seu roçar de dedos no meu queixo, seus - Deus me proteja! - adoráveis sumiços. Não vou diminuir você a um beijo. Somos tantos sonhos esperando a sua noite, somos tantas inseguranças impedindo os nossos pés de pular de uma vez que seria injusto transformar tudo isso em saudade e lembrança do beijo. Quero saudade do seu segundo perfume, saudade das suas chaves na minha bolsa, saudade de quem você é e não do seu gosto. Você não é sorvete, você é gente. A gente é um quase-beijo. E mais. A gente também é música, por que a música nunca pára, a música nunca acaba.
"Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música." - Aldous Huxley