quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Moída


Há tanto tempo não venho aqui. Faz semanas que não sinto o meu espírito leve o suficiente para compartilhar alguma coisa. E ainda estou assim. Meio suspensa entre tudo o que eu quero viver, acumular, entender. Estou meio tristeza, meio alegria e um completo de ânsia. Ansiosidade, nojo, medo, asco. Quero tanta coisa agora. Que ele pare de falar comigo como se eu fosse obrigada a fazer parte desse jogo idiota, que tudo volte ao normal, que a carne moída se refaça em carne inteira. Também estou moída, sabe? Por que tenho a culpa, o peso, a angústia e tudo o mais me sufocando. Tenho ele me sufocando. Com as lembranças, com sua falta de perdão, com essa mágoa estranha que escorre da sua língua e me fere por dentro, por fora. Me machuca. Já estou cansada demais para jogos bizarros, não posso manter as minhas pernas firmes, os meus passos lentos e a cabeça erguida. Cada palavra é outra batata escorregando garganta a dentro. E ele sabe. Me fere, me odeia e me ama. Que amor estranho, eu sei. É por isso que faz tanto tempo que não venho aqui. Cansei de ser só dor em um livro aberto. Assim que fizer sol eu volto. Prometo.

"...dessa vez era um amor mais realista e não romântico: era um amor de quem já sofreu por amor." - Clarice Lispector