Dentro de mim, 13 de abril de 2010. 
Pode chorar, mãe.
Encosta a cabeça em qualquer lugar e coloque pra fora 
todo esse peso que te aperta o peito. Lágrimas não vão te fazer menos 
mulher, não vão mudar nada, chorar não vai te fazer fraca. Só deixa 
sair, mãe. Inunde as ruas, inunde seus muros, inunde suas lembranças de 
água salgada tão sua, mas limpe toda a dor que lateja aí dentro. Pode 
ser o que quiser do meu lado, mãe. Eu sei que lembranças estão aí o dia 
inteiro te fazendo ponderar o futuro e o tanto que ele parece nublado e 
incerto. Há coisas que a gente espera e, mesmo assim, nos surpreendem 
quando vêm. Então pode chorar, mãe. Não deixe que essa batata na 
garganta, esse grito sufocado, esses dias girando em sua memória fiquem 
onde estão. Faça com que desçam pelo ralo ou guarde-os. Dê-me todos e eu
 os segurarei em minhas mãos fechadas. Mãos ainda novas, mas que 
entendem que você precisa respirar. Falo sério, mamãe, pode chorar! 
Estou aqui com você pra te escutar, estou do seu lado pra te abraçar. 
Conta comigo, minha amiga. Se considere, hoje, minha menina e deite em 
meu colo pra ser pequena outra vez. Naquele vestido simples de chita, 
com aquela sapatilha de fivela bonita, volte a ser criança e não se 
prenda tanto no mundo que criou. Saia daí, mãe. Você não precisa ser 
forte o tempo inteiro, vamos lá. Eu estou aqui e sou sincera quando digo
 que pode chorar. Tempo integral de Helena não te faz imortal. Sinta-se 
humana, dispa-se desse peso. Pare, descanse, desabafe. Obrigada por 
cuidar de mim, mas se deixe ser cuidada só por hoje. Obrigada por cuidar
 de todos, mas deixe-os de lado pra viver, mamãe. Eu seguro as pontas 
pra você desabar um pouco. Fico em pé pra você sentar, então repito: 
mãe, pode chorar.
Uma amiga. 
 
 
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