Por que parece que está tudo tão errado quando esse é o momento em que tudo deveria parecer mais certo? São nove meses até o dia com o qual eu venho sonhando por toda a minha vida e eu estou chorando e voltando a escrever neste bloco de notas como se fosse um diário. Ok. Colocarei algumas lágrimas na conta da TPM, do estresse de encontrar lugar, vestido e forminhas de doce perfeitos e, principalmente, nessa distância sacana que parece ser tão geográfica quanto emocional.
Toc. toc. toc. Você ainda está do outro lado? Antes de ontem você me disse que, se não estivéssemos onde estamos, estaria me dizendo que as coisas não estão funcionando. De repente, tudo também parece estar desse jeito para mim. A diferença é que o lugar onde estamos é fictício, é convencionado. Se nossa voz andar para trás, esse lugar desaparece e voltamos a ser uma garota e um garoto no Omegle. Queremos isso?
Eu digo sempre que você é o meu melhor amigo porque, honestamente, tem sido a única pessoa por quem tenho tentado fazer algum esforço ultimamente. Para os outros, me sinto ocupada demais, cansada demais, com vontade de ficar sozinha demais. Para os outros, eu estou com você. Só que não estou. Você também se sente só. Eu não sei onde me perdi porque, quando me ligam ou me mandam mensagens, sempre digo que estou com você. Só que nunca estou.
Não sinto falta das nossas conversas longas e cheias de assunto. Não sinto falta das risadas que demos juntos através da tela do computador. Não sinto falta de beijo nem de abraço nem de carinho. No momento, não tenho saudade. Acredito que o pote da saudade está vazio e tampado. Agora está cheio apenas o pote das expectativas. E elas são muitas. Sobre mim e sobre você e sobre nós dois.
Penso que você é exatamente o que eu sempre quis. Você vai ser um ótimo pai. Você é compreensivo, respeitador, sabe impor respeito, tem ambições na vida, quer me levar junto e me adora de um jeito admirado e grave. Só que tudo isso não me deixa com saudade de nada. Eu me sinto só meio vazia de gente e é meio como se toda essa gente fosse um pouco de quem eu sou. Aquela gente. Que eu nem sei por onde anda ou exatamente quem era. Eram todos fragmentos de mim que agora já não são. Eu já não sou.
Sigo sem vontade de nada. Percebendo o perigo que é viver cheia de expectativas para o outro lado quando o hoje, que é a ponte, parece estar se desfazendo sob os meus pés. Se o hoje for completamente corroído, como chegarei até nós dois outra vez?
Cada passo em frente é meio passo em falso e eu não sei porquê.
O hoje é vazio, é silêncio, é um pouco da gente se afastando em direção ao desconhecido que não está tão visível diante de mim.
E eu estou com medo. Se essa ponte se esfacelar por completo, sinto como se a minha única opção fosse cair num vazio infinito onde não há você, eu ou expectativas. Mas a saudade, ah, essa me seguraria pelos tornozelos, me puxaria os cabelos e me abraçaria ao cair. O verdadeiro vazio é sempre um grito alto e meio rouco que rapidamente enche de desespero o pote da saudade.